Crônicas

Gênesis

Fotografia revela detalhes de uma cidade, como se mostrasse seu corpo e alma. Por isso, o encantamento e medo perante uma fotografia; por isso, o zelo por nossa imagem.

Por: Sergio Damião em 21 de setembro de 2020

Fotografia revela detalhes de uma cidade, como se mostrasse seu corpo e alma. Por isso, o encantamento e medo perante uma fotografia; por isso, o zelo por nossa imagem. Nela, gravamos momentos diversos da vida urbana. A urbe é assim: multifacetada. Como viajante prefiro gravar em memória. Não consigo enquadrar imagens na tela da câmera; não consigo gravar fatos e instantes que me alegram; coisas que nos atraem; detalhes que importam às minhas sensações. Acho que falta concentração para o momento exato do click. Quem sabe, inconscientemente, o meu olhar não queira partilhar aquilo que interessa apenas a nós mesmos. Ou, o meu olhar é o olhar dos aborígenes: acreditam que a fotografia retira a alma da pessoa e das coisas. Com a pandemia do novo coronavírus nenhuma viagem é possível até a liberação da vacina. Resta rever, no YouTube, vídeos e fotografias do Brasil e mundo afora. Das minhas andanças, em memória gravei: “Paris é uma festa”. Mais que a arquitetura e ruas e avenidas projetadas… O que impressiona é a qualidade do serviço. Locais públicos e privados são impecavelmente limpos. Não é uma coisa de país rico. Vai além. As calçadas e fachadas, na cidade e vilarejos, são motivos de rivalidades. Disputam entre si, para apresentarem o melhor visual; sem se preocuparem com o luxo. Algo que envolve civilidade: senso de direito e deveres. Os cuidados surpreendem bem antes da surpresa com a beleza arquitetônica. À noite, em quarto de hotel, a televisão apresentava o noticiário da CNN. A jornalista perguntava ao fotógrafo Sebastião Salgado a razão das telas expostas no Museu de Nova York e as fotografias do seu livro (Gênesis). Em inglês, ele revelou a origem de tudo: buscou em tribos da Amazônia, em pontos longínquos da Patagônia e nos animais da África o início da vida. Em Aymorés, uma cidade mineira junto ao Espírito Santo, perto do rio Doce, em terras pertencentes aos seus pais, ele mantém uma reserva florestal. Contribui para evitar as mudanças climáticas que podem afetar a vida e beleza das nossas cidades. No dia seguinte, bem cedo, saí em passeio de carro por planícies, campos e vilarejos. Nas lembranças ficaram também o Jardim de Monet e a música de Edith Piaf.