Crônicas

Hábitos fraternos

Sou daquele tempo em que as pessoas se visitavam, e no interior, habitualmente, aos domingos.

Por: Marilene Depes em 3 de abril de 2023

Sou daquele tempo em que as pessoas se visitavam, e no interior, habitualmente, aos domingos. Não havia telefone, nem internet, as famílias eram surpreendidas por outras famílias que chegavam para as visitas. O normal era ter despensa sortida, com biscoitos, pães caseiros e bolos, para não serem pegos desprevenidos. Também se levava as visitas para o quintal, para degustarem as frutas da época: laranjas, mangas, goiabas, jabuticabas, entre outras. No sítio onde morávamos havia muitas jabuticabeiras, causando verdadeiras romarias na época da colheita.
Saí da roça, mas a roça não saiu de mim, mantive o hábito das visitas. Em Marataízes, de férias e com tempo, adoro visitar os amigos, naturalmente que hoje já utilizo os meios de comunicação para agendamento. E visito sistematicamente os parentes e amigos que se encontram doentes ou passando por alguma situação complicada.
Em conversa com alguém bem mais jovem, fui censurada por manter hábito tão fora de moda, já que hoje os meios de comunicação nos colocam em presença virtual, sendo desnecessário o deslocamento físico e até existe a possibilidade de estarmos sendo inconvenientes. Penso que não há Instagram, Facebook e WhatsApp que substitua um forte abraço, uma conversa olhos nos olhos e beijinhos na despedida. E quando rezo o terço e medito os Mistérios Gozosos, ao contemplar Maria grávida subir as montanhas para auxiliar sua prima Isabel, grávida e em idade avançada, fico imaginado o quanto isso é importante para quem está só, num momento difícil, e que carece da presença afetiva de alguém, que se furta por comodismo e omissão.