Crônicas

Histórias de cães

Gosto de animais, de cuidar deles, alimenta-los, tê-los por perto. Animais simbolizam vida e nos oferecem muito mais – em carinho, consideração e reconhecimento, do que nós a eles.

Por: Marilene Depes em 14 de setembro de 2020

Gosto de animais, de cuidar deles, alimenta-los, tê-los por perto. Animais simbolizam vida e nos oferecem muito mais – em carinho, consideração e reconhecimento, do que nós a eles. Não sou de ficar alisando, mas aprecio a companhia, não os tenho dentro de casa, mas todos são bem alojados, e não admito maus tratos e desrespeitos. Minha afinidade vem do interior onde passei minha infância entre cães, gatos, cavalos, pássaros variados, e os animais para consumo, o que me causava mal estar – não tinha entendimento do que sentia, mas me apegava a eles e detestava o fato de assistir o final de suas vidas dentro de uma panela. Na roça, o dia da matança do porco era de festa, e para mim um velório, que tinha início na madrugada com os berros lancinantes do animal sendo morto.
Meu afeto maior é pelo cães, não consigo enxergar nos olhos de outros animais os sentimentos expressados pelos cães. Tem prazer em ficarem próximos, demonstram visível alegria pela chegada dos donos através do abanar do rabo, e também com o rabo demonstram desagrado e tristeza colocando-o entre as pernas, e são muito inteligentes. E seu apego é digno de admiração, saem correndo quilômetros atrás de carros, de ambulâncias, e se postam em portas de hospitais aguardando a alta dos donos. Um vizinho se mudou para outra cidade, decidiu não levar seu cão e o deixou no BNH. No dia seguinte o cão estava postado no portão da casa, na Vila Rica. Sua agonia era visível, cabisbaixo e não aceitando comida e bebida. Três dias depois liguei para o vizinho, e ele retirou o cão. E o cão retornou com o mesmo aspecto de tristeza, liguei de novo e qual a decisão tomada não sei, só sei que foi muito triste o que vivenciamos.
Sobre esperteza lembrei-me do cão da casa da minha irmã, cujo nome, Báu, foi dado pelo aspecto semelhante a alguém da família. Ele gosta de ficar embolado com as pessoas, mas basta ouvir: – vamos tomar banho, que desaparece. E outro, chamado Galileu, um vira-latas, que mora na casa em frente do meu portão e que, de vez em quando foge, e depois fica desesperado querendo entrar de volta. Eu sempre chamo os vizinhos comunicando. E hoje aconteceu algo incrível, Galileu veio até a janela do meu carro e me pediu, com o olhar, que eu resolvesse sua situação. Ele sabia a quem recorrer. Afinal, estar num espaço seguro é reconfortante para todos, homens e animais.