Crônicas

Incoerências e exageros

O teor é mais ou menos o mesmo – nos separamos mas continuamos super amigos, temos um carinho muito grande um pelo outro, optamos por seguir caminhos diferentes, mas a amizade e respeito continuam.

Por: Marilene Depes em 14 de dezembro de 2020

Não sou uma descrente da palavra alheia, mas acho muito estranho certas declarações dadas por casais que se separam, a maioria artistas ou gente da mídia. O teor é mais ou menos o mesmo – nos separamos mas continuamos super amigos, temos um carinho muito grande um pelo outro, optamos por seguir caminhos diferentes, mas a amizade e respeito continuam. Duvido! Principalmente quando a separação é resultado de uma traição. O ex-casal pode até tentar ajustar algumas questões referentes a guarda dos filhos, mas a animosidade é garantida, há sempre briga pela divisão dos bens e pensões, entre outras.
Outra situação que me é estranha é o excesso de postagens nas redes sociais, pessoas se apresentando lindas em fotos repletas de photoshop; e linda não é preconceito, mas homem em geral não dá nenhum retoque em fotos, estão nem aí para as rugas, barrigas avantajadas e são mais reservados. Observo fotos e mais fotos do casamento perfeito, do quanto o casal se ama, das casas luxuosas e locais paradisíacos que frequentam, das comidas maravilhosas que comem – do café da manhã ao jantar. É tanto exagero que dá para desconfiar. Quando vejo postagens de abraços e beijos no dia a dia, já desconfio que as coisas não estão tão legais, quem está feliz simplesmente está e pronto, válido tanto para os amores quanto para a vida, e até se preserva de fazer muita propaganda para evitar olho grande.
É prazeroso publicar foto de um momento especial da vida, partilhar a alegria ao desfrutar de uma viagem, das conquistas familiares, e é conveniente fazê-lo em relação às comidas quando se é nutricionista ou cozinheiro, das roupas quando se é lojista ou um “influencer” de moda, de corpos malhados quando se é “personal trainer”, divulgação do trabalho que realiza e das vitórias pessoais. Tudo dentro da medida e do razoável. E pode-se até questionar que não existe medida, cada um faz da vida o que quiser. Sim, mas até para a liberdade existem limites, a necessidade exagerada de auto promoção extrapola o bom senso. Já nos grupos de WhatsApp, fechados e em geral formado por pessoas com objetivos específicos, posta-se à vontade, mas sempre cuidando para não fugir à proposta do grupo.
Num mundo tão cheio de desigualdades como o que vivemos, em que as redes sociais são abertas e expostas a todos, é até uma provocação divulgar tanta riqueza, poder, esplendor e felicidade. E é um risco. O mínimo quando se trata de expor a própria vida é o máximo, e uma demonstração de humanismo e respeito pelos não tão favorecidos.