Crônicas

Laranja Inteira

Metade delicadeza, que sente e confia no imperceptível, na intuição, metade animal, que aceita sem negar sua natureza selvagem.

Por: Janine Bastos em 7 de novembro de 2022

Metade delicadeza, que sente e confia no imperceptível, na intuição, metade animal, que aceita sem negar sua natureza selvagem.
Aceita os excrementos, o chorume contido por baixo de todo lixo que carregava, mesmo sem saber (em seu inconsciente).
Cuida, analisa, compreende, recicla.
Faz além da higiene física, a psíquica.
Conhecer e compreender a sua metade, a sua parte faltante, as suas verdades, a fez desenvolver o todo.
Hoje não existem mais metades, pois esta a fragmentava, hoje é inteira carne e alma, em um único ser, que no caso era do gênero feminino, mas poderia não ser.
Se vestiu primeiro de sua força, a propósito, a fez com as próprias mãos, levou tempo, mas valeu o esforço, pois assim tomou consciência, conquistou autonomia e uma vez tendo desbravado seu próprio inconsciente, ganhou entendimento e pertencimento de si, que a garantiu não mais ser colonizada por ninguém.
Um mais um, somam dois.
Nada de duas metades da laranja, escolheu ser laranja inteira e se abrir para relações com alguém igualmente inteiro, que não precise, por falta de coragem em se ver frágil, como um Zé ninguém, se manter cego diante das próprias dores e inseguranças pessoais.
E por isso, empurrando para o outro a responsabilidade daquilo que não soube cuidar em si.
Se mostrando forte e poderoso, confiando apenas no falso self, poder, posses, bens, sem antes ter conquistado, experimentado, desbravado, suas duas metades, suas vitórias e derrotas internas.
A força está no todo, está na união de saber se reconhecer hora forte, hora fraco, pulsando naturalmente nesses dois estados.
A força está no ser e não apenas no ter ou pertencer.
Ser, florescer, crescer, viver, merecer, vencer, morrer.
Quem nunca imaginou ser e quase morreu sustentando esse papel, até resolver deixar de encenar e ser mais forte que velhas e profundas crenças e poder escrever uma história que fale mais do seu EU atual e menos do seu passado, segue sendo só, metade.