Crônicas

Lembranças

Meu neto sempre me surpreende com seu gosto musical, e em geral suas playlists estão repletas de músicas antigas, sucessos de gêneros diversos e que tocam o meu coração.

Por: Marilene Depes em 11 de julho de 2022

Meu neto sempre me surpreende com seu gosto musical, e em geral suas playlists estão repletas de músicas antigas, sucessos de gêneros diversos e que tocam o meu coração. E nesta semana ao ouvir A String of Pearls, canção de Glenn Miller, eu me transportei para o Cine Teatro Broadway e para minha adolescência.
O Broadway era, na minha percepção, um cinema luxuosíssimo, enorme, com uma tela grandiosa para possibilitar a transmissão de filmes em cinemascope. As telas dos outros cinemas eram menores, como as do Central, São Luiz(Plaza), Santo Antônio e Eldorado. Depois surgiu o Cine Cacique, onde hoje é o Bradesco, também com telão. O Broadway se situava na entrada da ponte de ferro, hoje Loja Leader.
Numa época que não havia televisão, computador e celular, a maior diversão era o cinema, além do melhor local para namorar já que a maioria namorava escondido. O Broadway foi inaugurado com um faroeste impactante, Vera Cruz – com Gary Cooper e Burt Lancaster. Dois filmes marcaram minha adolescência, Trapézio – com Gina Lollobrigida, Burt Lancaster e Tony Curtis, e Tarde Demais para Esquecer- com Gary Grant e Deborah Kerr, com a cena mais quente até então apresentada no cinema. Mas o encantamento da época eram os faroestes, inicialmente os americanos e posteriormente os italianos, estes fizeram muito sucesso devido ao realismo das cenas e pelas trilhas sonoras.
O Cinema Central apresentava principalmente faroestes e no final da década de 50 um faroeste durou só meia hora, daí o público se revoltou destruindo todas as cadeiras do cinema. Outro destaque eram as chanchadas brasileiras, filmes de comédia simplórios, sem palavrões, em que atores como Oscarito e Grande Otelo faziam o público gritar de emoção e gargalhar com suas trapalhadas. As comédias de hoje não tem comparação com as antigas, são apelativas. No cinema americano comediantes como Jerry Lewis e Dean Martin lotavam os cinemas. Enfim, havia maior variedade de estilos, os filmes históricos eram sucesso absoluto como Bem-Hur, Spartacus e Cleópatra. Hoje os filmes de ação e de ficção científica tomaram conta do mercado cinematográfico. Assistir filmes na TV e no celular não tem o glamour de adentrar em uma sala de cinema e se emocionar desde o prefixo musical, a sonorização, os efeitos especiais, a tela enorme, tudo encanta. Os cinemas lotados deram lugar hoje a meia dúzia de “gatos pingados”, o comodismo está tirando das pessoas algo muito prazeroso. Ir ao cinema é um ato de protesto contra o que nos impõe o modernismo. E nem citei o sabor especial da pipoca, do drops e dos beijos trocados no escurinho.