Crônicas

Lost

Tempos atrás, uma série televisiva americana tomou meu tempo. Durante seis anos, nas temporadas variadas, em uma segunda-feira, fim de noite, minha atenção se voltava para a televisão.

Por: Sergio Damião em 10 de outubro de 2023

Tempos atrás, uma série televisiva americana tomou meu tempo. Durante seis anos, nas temporadas variadas, em uma segunda-feira, fim de noite, minha atenção se voltava para a televisão. No capítulo inicial, imaginei uma ilha no pacífico, apesar da tragédia da queda do avião, um local ideal enquanto o resgate não chegava. Mas, a cada segunda-feira dormia com uma dúvida maior. A ilha se mostrava mágica e os dramas pessoais apareciam cada vez mais evidentes. A ilha, inicialmente paradisíaca, aumentava sua magia a cada temporada. Com poderes de curas, transformações pessoais e coletivas. Em seu interior apareceram outros personagens com atitudes violentas e assassinas. E desta maneira o mistério crescia e aumentava o desejo pelo próximo episódio. Sempre em busca de respostas, as quais nunca aconteciam. A ilha continuava a sedução. De uma temporada para outra eram meses de espera, ainda assim, não diminuía o interesse, pelo contrário, só aumentava. Com o passar das temporadas começou a ficar evidente que, o que menos importava eram as respostas. Os conflitos apresentados e as fantasias confundiam-se com as nossas vidas. E os mistérios: Por que vivemos? De onde viemos? Para onde vamos? O sentimento de perda se aprofundava. Um vazio. Algo que superamos. Sempre superamos. Basta o tempo. Responsável por abrandar paixões e diminuir memórias. Um apagador de lembranças. Ele facilita nossas transformações. Nos levando a pensar diferente, e assim, continuamos a viver, até um novo conflito e embate. O capítulo final reuniu sobreviventes da ilha mágica em um mundo real. Apresentaram-se em uma cidade americana. Numa igreja, as pessoas ou seus espíritos, encontraram-se aos pares. Cada casal aparentava a felicidade ideal, a solidão de vida anterior havia desaparecido, como se a mitologia, o mito da completude, a união em um ser só, quando na verdade existem dois, fosse possível de se concretizar. Não sei se foi isso o mostrado, pelo menos foi o que imaginei. Se não foi, é o que ficou em meu pensamento e memória. Ou, o que desejei. Desde então, perdi o interesse pelas séries da TV. Assim como perdi o interesse, desde a última largada do Airton Sena, pelas corridas automobilísticas de Fórmula 1.