Crônicas

Loucura

A sociedade ocidental sempre afastou do seu convívio os inconvenientes. Afastava o que via: criou na Idade Média os leprosários. Afastou o que não entendia: a loucura (manicômios - hospícios).

Por: Sergio Damião em 28 de junho de 2021

A sociedade ocidental sempre afastou do seu convívio os inconvenientes. Afastava o que via: criou na Idade Média os leprosários. Afastou o que não entendia: a loucura (manicômios – hospícios). O francês Michel Foucault descreve na História da Loucura um barco: Nau dos Loucos. Uma das primeiras formas de exclusão dos insanos. Machado de Assis em O Alienista utiliza o médico Simão Bacamarte e seus critérios de normalidade para justificar as internações hospitalares e com isso subjugar toda uma cidade. Erasmo de Rotterdam, em o Elogio da Loucura, descreve um personagem grego para relatar a importância das ilusões para se afastar das loucuras diárias, o personagem utiliza-se das fantasias do Teatro para se curar da alienação. Shakespeare e Miguel de Cervantes revelam a complexidade humana e os conflitos de suas relações com comportamentos de riscos e intolerâncias, rejeição e enclausuramento dos diferentes. Com a moderna terapêutica psiquiátrica o paciente é incentivado a conviver com seus familiares. Ainda assim, permanecem os que necessitam de internação. Na atualidade, o perfil do transtorno mental modificou-se, gradativamente são substituídos pelos dependentes químicos – álcool e drogas ilícitas, depressivos e personalidades atípicas: loucura social. Algo do desarranjo pessoal e coletivo. A loucura atual, agravada pelo distanciamento social da pandemia do Covid -19, SARS CoV-2, encontra-se evidenciada nas redes sociais, inviabilizando os diálogos civilizados. Um caminho do pensamento único e para a banalidade da intolerância e o mal. Para o dependente químico, mais ainda para as drogas ilícitas, além do social, o agravante é a falta de instalações públicas adequadas para a recuperação. Falta local público adequado para os cuidados dessas pessoas. Falta acompanhamento ambulatorial (ampliação do CAPS – AD – Centro de Atendimento Psicossocial para Álcool e Drogas). Falta aos Estados e Municípios o entendimento da gravidade do problema. Falta o despertar da sociedade para a loucura em que nos encontramos. Falta à sociedade despertar, e entender, que: “Navegar é preciso; viver não é preciso.” Na verdade: “Viver é perigoso.” Neste barco social à deriva, precisamos de marinheiros com bom senso.