Crônicas

Manequins

Pois, o cliente sempre tem razão, mesmo sendo gringo.

Por: Sergio Damião em 7 de fevereiro de 2020

Fico imaginando um turista, desses que se ilude facilmente com as propagandas da beleza e espontaneidade das mulheres brasileiras, divulgadas mundo afora, passeando pela cidade de Cachoeiro. Pensei nisso anos atrás quando cruzava o sinal luminoso no final da Rui Barbosa. E, bem em frente da faixa de pedestres, deparei com uma loja de roupas femininas. Hoje: loja de eletrodomésticos. Imaginei que ao chegar à cidade cachoeirense, no verão ou em uma Feira do Mármore, estaria em busca da modelo descrita e gravada na memória. Ao cruzar o sinal se encantaria com as modelos. Esqueceria de pronto a visita a Casa de Roberto Carlos, Casa dos Bragas, Fábrica de Pios e ao Rio Itapemirim. Devido as manequins se recusaria a ouvir a melodia do Raul Sampaio: Meu pequeno Cachoeiro. Ficaria por um bom tempo observando… Acho que, lá pelas tantas, chamaria o gerente e diria: não eram bem estas roupas que gostaria de levar e sim uma das suas manequins. E apontaria para as modelos. Devido à dificuldade de se expressar, e se fazer entender, o gerente nada entenderia, mas, em todo caso, no final, concordaria. Pois, o cliente sempre tem razão, mesmo sendo gringo. Chegando ao hotel com o grande embrulho, os porteiros estranhariam, para em seguida ajudá-lo. Afinal, turistas são estranhos, o que fazer? Com o passar dos dias, o nosso estrangeiro, mais e mais, se convenceria que aquela era a mulher dos seus sonhos. Pois, ela nada reclamava. Pelo silêncio, parecia consentir com tudo. Pela maneira que balançava na cadeira, e movimentava a cabeça, dava à impressão que entendia todo diálogo mesmo as palavras pronunciadas com mais dificuldade. Resolve: Levaria a manequim para a Europa. Tentou acomodá-la na mala, não sendo possível, decide: levaria em mãos. Mais alguns dias e chega a data do embarque. No vôo nacional até o Rio de Janeiro, nenhum problema. A amada viaja em cadeira ao lado com assento na janela. No vôo internacional, a checagem da bagagem, sem anormalidades. Porém, a surpresa, a Polícia Federal estranha o embrulho e o assento pedido e reservado. O nosso turista tenta explicar, em língua confusa, o significado de tudo. Nada foi entendido. Sendo assim, é retido para averiguações. A manequim em gesso é confundida com o tráfico de nossas mulheres. Concluíram pelo interrogatório que: pelo menos em pensamento, o nosso visitante estrangeiro era culpado. Na verdade, culpado pela imaginação.