Crônicas

Medo de ser feliz

Pensava ser uma pessoa corajosa, e há algum tempo estou tendo receio de me expor. Nunca fui política, mas sempre fiz as minhas escolhas e democraticamente as declarei.

Por: Marilene Depes em 10 de outubro de 2022

Pensava ser uma pessoa corajosa, e há algum tempo estou tendo receio de me expor. Nunca fui política, mas sempre fiz as minhas escolhas e democraticamente as declarei. Nas eleições de 2018 decidi qual era o caminho a seguir, como mulher e cidadã. Questões que para mim são prioritárias direcionaram a minha escolha. Nunca fui de esquerda, nem comunista, mas as propostas da direita radical não atendem aos meus princípios humanitários.
Sou contra, radicalmente contra os preconceitos – o machismo, a homofobia, a xenofobia, o racismo, o etarismo, sou contra os púlpitos transformados em palanques, sou defensora da vida e dos direitos humanos. Diante do que se vislumbrava fiz minha escolha e discretamente expus em meus escritos. E a cada crônica publicada nas redes sociais os comentários agressivos e injuriosos se avolumavam. Eu os apagava e seguia adiante. Nunca entrei numa publicação alheia para contestar, tenho o maior respeito pelo pensamento e liberdade de cada um. Contudo, para me proteger e à minha integridade fui apagando os comentários e as pessoas da minha lista de amigos.
Amigos de fato aceitam as nossas opiniões com dignidade e respeito. Comecei a perceber um movimento que levava a um radicalismo fanático. A liberação das armas e o consequente aumento de casos de feminicídio me preocupam, o radicalismo das pessoas mais ainda. Me afastei de grupos cujos pensamentos diferem dos meus, ficava estupefata diante de mulheres que não percebem que estão na contramão do próprio gênero ao defender pautas que tolhem a liberdade feminina, e quem cita um kit gay que nunca existiu, a ideologia de gênero que não transforma orientação em opção e a hipotética implantação do comunismo num país que respeita sua Constituição.
Quando declaro meu voto algumas pessoas me olham espantados, e a maioria ainda tenta me convencer que estou errada, com argumentos infundados e num tom de voz que me faz pressupor que nem eles acreditam no que pregam. Respeito a escolha do outro sem intervir e me vejo desrespeitada. Por quê tive medo de colocar no meu carro um plástico do meu candidato? De usar algo que identificasse minha escolha no dia das eleições? Quantos estão em situação idêntica? No meu local de votação havia um corredor de pessoas com as cores identificando o partido, alguns com camisas Deus, pátria e família na frente e um rifle atrás. O radicalismo assusta e dele eu tenho medo, e temo pelos meus familiares e amigos. E temo pelo meu país.