Crônicas

Momentos

A vida é boa! Mesmo que, por alguns instantes, fique a impressão do contrário. Para os resilientes, instantes de tristezas. Para estes, a dor física e da alma praticamente não existe.

Por: Sergio Damião em 18 de dezembro de 2023

A vida é boa! Mesmo que, por alguns instantes, fique a impressão do contrário. Para os resilientes, instantes de tristezas. Para estes, a dor física e da alma praticamente não existe. Nestes, a dor da alma se esconde em parte profunda do cérebro, em memória bem distante. Pelos corredores do hospital ela se escondia, escondia-se no pátio, sob uma árvore ou em pequenos bancos. Escondia-se no leito da enfermaria hospitalar, fingia dormir, parecia alheia ao mundo. Estava em todos os lugares e em lugar nenhum. Pouco falava, evitava os demais pacientes. As visitas nosocomiais eram raras, bem esporádicas, quase uma obrigação para os familiares. Com seu jeito amargo e disperso afastava aquele que se aproximava. Apesar do isolamento, sentia-se segura. Lembrava da vida fora das paredes do hospital, dos desejos e pensamentos tristes, a retirada da vida como saída para as amarguras e dores. Nas aparências, nenhuma dor, apenas um leve rubor facial. Por isso, não a entendiam. Por não se deixar ver, e por não entenderem, acreditavam que as razões do sofrimento não podiam existir. Para todo efeito, o sofrimento deveria estar aparente, visto e tocado, na pele, em seu corpo alguma marca deveria existir. Algo para ser visto, como prova do sofrimento. Para aqueles que a conheciam, um desatino. A mudança acontecera subitamente, coisa de dias, horas, como um vulcão em ebulição. Algo guardado em memória e, de repente, aparece em um corpo perfeito. Uma mente desfeita em questão de minutos. Ela não se conhecia, concluiu. Buscava a verdade. Não existia a verdade. Era aquilo que a viam ou o que deixava ver. Vivia aquilo que queriam que fosse. Transformou-se após dias passados em reclusão. Dia após dia evitou se esconder. Alegrava-se com as palavras. Passou a conhecer-se. Entender necessidades. Primeiro as suas, para então entender a dos outros. Ouvia e sentia. Entendia as dores dos outros, aceitava suas dores. A melancolia e a tristeza foram desaparecendo. Os amigos retornaram e a buscaram, encontravam-se na porta da instituição psiquiátrica. Passara os dias em reclusão, inclusive o de São Pedro, o da festa de Cachoeiro, sua cidade. Não assistiu pelas ruas e praças a banda do Liceu, uma lembrança do tempo de criança e dos pais. Aproximava-se o Natal e o Ano Novo. A esperança…