Crônicas

O engajamento e o dinheiro

Concedi entrevista ao programa “Entre Elas”, dirigido por Marilene Depes e Regina Monteiro, no canal Youtube, sobre o tema Fake News. Foi uma conversa longa e proveitosa, pois abordamos o tema sob vários aspectos.

Por: Wilson Márcio Depes em 21 de fevereiro de 2022

Concedi entrevista ao programa “Entre Elas”, dirigido por Marilene Depes e Regina Monteiro, no canal Youtube, sobre o tema Fake News. Foi uma conversa longa e proveitosa, pois abordamos o tema sob vários aspectos. O problema maior – e as perguntas vieram com contundência – é como barrar a circulação de notícias falsas, já que ainda não há uma legislação exatamente adequada nesse sentido. E ainda mais: como não confundir a supressão da notícia com censura à imprensa. Foi dito na entrevista que as plataformas de redes sociais disponibilizaram ferramentas que permitem aos usuários denunciar as publicações. Mas, o grande problemas é que a demora na reação tem permitido que as mensagens sigam no ar, sem avisos sobre o teor enganoso — e ganhando impulso mesmo depois das comunicações.
O jornal O Globo testou os mecanismos criados por Facebook, Instagran e Twitter em 20 postagens com desinformação sobre saúde e política, entre 26 de janeiro e 3 de fevereiro. “As redes agiram até as 18h de sexta-feira com rótulos de mensagem enganosa ou remoção de conteúdo em apenas quatro casos — em um deles, após a identificação de que se tratava de uma reportagem. Os outros 16 posts seguem no ar, sem qualquer alerta. Nesse grupo, sete receberam links para sites de instituições ligadas aos temas citados, como o Ministério da Saúde e a Justiça Eleitoral, e textos reforçando a segurança de vacinas, mas sem afirmar que são conteúdos desinformativos”.
Na entrevista, já antecipávamos isso. E o assunto esquentou exatamente em razão das eleições deste ano, além, desnecessário seria dizer, da gravidade do tema. Antevimos outros fenômenos: as redes se esquivam de punir os poderosos, dentre eles os políticos que estão no poder. O que fazer? O pesquisador David Nemer avalia que não há transparência e critério claro sobre quais conteúdos devem ou não ser alvo de ações das redes. Ele defende que as plataformas identifiquem e atuem com foco em perfis centrais na cadeia de desinformação: campanhas de desinformação são lideradas por poucas contas. Quando o Donald Trump perdeu a eleição, e houve disseminação sobre fraudes, uma dezena de contas liderava a campanha. Uma vez removidas, a desinformação caiu bastante. Não é preciso remover todas as contas, mas identificar quais são os hubs de desinformação. Isso qualquer rede consegue, mas não acontece porque são contas que geram engajamento, e engajamento é dinheiro para as redes sociais. Aí, caros leitores, mora o grande problema: engajamento gera muito, muito dinheiro para as redes sociais.