Crônicas

O espetáculo eleitoral do Bicentenário

O presidente-candidato Bolsonaro transformou os 200 anos de comemoração da Independência numa grandiosa festa eleitoral. No linguajar dos marqueteiros se chamava – não sei se ainda é assim ... – “volume de campanha”

Por: Wilson Márcio Depes em 12 de setembro de 2022

O presidente-candidato Bolsonaro transformou os 200 anos de comemoração da Independência numa grandiosa festa eleitoral. No linguajar dos marqueteiros se chamava – não sei se ainda é assim … – “volume de campanha”. Estratégia antiga que causa efeito psicológico no eleitorado. Nas lutas travadas entre o MDB e a Arena, os candidatos mais ricos – que eram os pertencentes à Arena, que sustentava a Ditadura de 64 – contratavam os grandes cantores que estavam na moda e apareciam na TV. Daí a expressão “showmício”. Claro que a sofisticação hoje é mais completa. Mas o objetivo era – e ainda é – passar impressão de vitória, fundamentalmente em busca dos eleitores indecisos. Com a retórica de que “eu vou votar em que vai vencer a “eleição”.
Servia, também, para questionar o resultado das pesquisas eleitorais. Como é o caso. Se as pesquisas estão apontando Lula como vencedor, o “volume” mostra que elas seriam falsas. Tudo foi rigorosamente armado. Não haveria estratégia melhor. Na falta de argumentos técnicos, a multidão permitiu até que Bolsonaro fizesse algumas “gracinhas” profundamente preconceituosas. Sugerindo comparação entre primeira-dama Michele, a quem chamou de “princesa” e “mulher de Deus”, e as esposas de outros candidatos. O Presidente se deu ao luxo de proclamar, puxando o coro, de “imbrochável”. E mais. Bolsonaro, que enfrenta grande rejeição do eleitorado feminino, fez elogios e beijou Michele no comício de Brasília; mais cedo, casal foi flagrado pela TV em grande discussão.
É claro que o teor das manifestações bolsonaristas estão em confronto com a lei: usou um espaço público que deveria ser dedicado a celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil, para fazer comícios em sua campanha à reeleição. Claro que assistimos a um “showmício” majestoso, quando, na verdade, a lei eleitoral não permite tal manifestação. Mas Bolsonaro jogou, taticamente, com várias situações: a) o volume da campanha mostra que as pesquisas estão mentindo; b) se impugnarem a candidatura dele, abre um caminho, sem curvas, para propiciar um golpe militar; c) a investigação da Justiça Eleitoral, “eu tiro de letra”. O que é ainda mais absurdo, foram os cartazes com agressões à democracia até mesmo em inglês. Agora, o que se pode fazer é esperar a pesquisa Datafolha que será publicada neste final de semana. As fichas estão na mesa e cada um escolhe um número que achar adequado, sem violência, respeitando, sobretudo, democracia conquistada com sangue, suor e lágrimas.