Crônicas

O poder da oração

Quando me deparo com as figuras de Marta e Maria no Evangelho, me identifico bastante com Marta. Sou de ação, tenho dificuldade de permanecer por longo período em meditação ou atenta e sem dispersar-me.

Por: Marilene Depes em 3 de agosto de 2020

Quando me deparo com as figuras de Marta e Maria no Evangelho, me identifico bastante com Marta. Sou de ação, tenho dificuldade de permanecer por longo período em meditação ou atenta e sem dispersar-me. Quando sinto necessidade de estar em contato maior com Deus, geralmente pego a Bíblia e nela leio um texto, faço novenas ou rezo o terço. O oração do terço é longa, são orações repetidas e intercaladas com os mistérios da vida de Jesus. Começo sempre atenta e daí a pouco já estou pensando em outra coisa, retorno, volto atrás quando percebo que meu pensamento está longe há bastante tempo, e chego ao final aos trancos e barrancos, mas chego. Curto rezar o terço quando estou viajando sozinha, já na oração em grupo, vou repetindo tudo automaticamente e novamente me dou conta que estou viajando por outras dimensões, como também nas homilias durante a missa, e sou consciente que me prendo muito mais pelo que leio do que pelo que ouço. Meu alento foi Leonardo Boff, que numa conversa com uma idosa que ia dedilhando as contas do seu terço e parecia estar totalmente alheia – como eu, quando ele a questionou, ela justificou: – o que não se pode perder é o fio do pensamento. E isso eu não deixo extraviar, pelo menos.
Neste ano, em especial, em que estou perdendo amigos, a esperança, o ânimo, o alento e até o chão; tenho me dedicado muito a oração. Do meu jeito, com as devidas adaptações. Levanto e vou caminhar, são três quilômetros todos os dias, e com o terço nas mãos entrego inicialmente minha família, os amigos, as pessoas que me pediram orações, os vizinhos, a Vila Aconchego, e nessa lista eu vou acrescentando novos nomes ou deletando os já curados ou os que, infelizmente, se foram, e me cobro no meio da dor da perda, talvez não devo ter-me empenhado bastante. Se esqueço o terço e vou contando as orações nos dedos, tenho que retornar dezenas de vezes e já aconteceu de não conseguir terminar antes dos três quilômetros da caminhada.
E a descoberta que estou fazendo durante esse período maior de oração é a afinidade e a ligação amorosa que vai se criando entre mim e as pessoas pelas quais vou orando, choro até hoje a perda da amiga, o filho da outra amiga passa a ser meu filho, o marido o meu irmão, o pai de outra que nem conheço pessoalmente, sinto ama-lo com o amor de filha. Eis a grande magia da oração, mesmo estrambelhada como a minha, a conexão espiritual nos transporta para uma dimensão de amor universal.