Crônicas

O que existe aqui?

E as palavras, eu que vivo delas, onde estão? Onde estão as palavras para contar toda a minha emoção quando soube que os vereadores à Câmara Municipal, por generosidade, vão me homenagear com o título de “Cachoeirense Presente de 2022”? Regina e Marilene, através de telefone, cuidaram de mim o tempo todo.

Por: Wilson Márcio Depes em 14 de junho de 2022

E as palavras, eu que vivo delas, onde estão? Onde estão as palavras para contar toda a minha emoção quando soube que os vereadores à Câmara Municipal, por generosidade, vão me homenagear com o título de “Cachoeirense Presente de 2022”? Regina e Marilene, através de telefone, cuidaram de mim o tempo todo. Aliás, duas irmãs intensíssimas. Elas sabem o que é isso. Cuidam bem das emoções. Logo depois, com aquela vozeirão todo e com, sinceridade e muito afeto, o presidente Braz Zagoto disse logo: “Olha você foi escolhido e por unanimidade”. Lembrei-me de Juarez Tavares Matta. Bateu uma saudade, que não tenho também palavras para elucidar. Rememorei o tempo em que Braz cuidava de nossas bicicletas, lá na Vila Rica, e também de Rubinho, do Alaska, nosso amigo em comum; amigo de muitas décadas. Que é da Vila Rica também, mas mora mesmo é dentro de meu coração; mora no coração da Praça Jerônimo Monteiro, no antigo Bar Alaska, repositório de todas as histórias.
A mística de Cachoeiro só é sentida na autenticidade, cheguei a essa conclusão agora, quando você é homenageado. Sempre vi de perto a emoção de cachoeirenses ausentes e presentes, mas como secretário municipal. Fiquei muitos anos, assim, digamos, um pouco protocolar. Hoje, confesso, é diferente. Certa feita perguntei a Rubem Braga de onde vinha esse bairrismo. Ele me disse, resmungando, naquele seu jeito turrão: “Cachoeiro é uma cidade como as outras. Só que é Cachoeiro, e isso tem demonstrado ser uma impressionante singularidade. Algo de especial existe por aí, por essas ruas, e pontes e curvas do rio. As pessoas que não são de Cachoeiro é que dizem isso, e me perguntam o que há. Não há nada. É Cachoeiro. E Cachoeiro é assim”.
Tal reflexão foi para o prefácio de meu livro. A ficha ainda não caiu. A partir de ontem fico buscando, com outro olhar, o que de especial há entre as ruas, e pontes e curvas do rio. Sob os eflúvios desse sentir, cheguei até a buscar em Benjamin Silva, que celebrou em versos a tagarelice do rio Itapemirim, que, por seu trecho pedregoso e barulhento, deu nome à cidade e às terras do município. Tantos anos e tantos séculos se passaram e o nosso sentimento de cachoeirense permanece, ecoando no meu inconsciente como se fossem as vozes das ruas que clamam por paz, amor solidariedade e justiça social. E choro de nosso Itapemirim. Estou feliz.