Artigo

O que se vê e o que não se vê

Nela, o autor afirma que, na esfera econômica, um simples ato não gera somente um efeito, sendo o primeiro apenas o imediato, visível. Os demais aparecem depois, invisíveis num primeiro momento.

Por: Redação em 2 de agosto de 2022

Frédéric Bastiat foi um economista e jornalista do século XIX que assumiu uma cadeira no Congresso francês e fez importantes contribuições para a compreensão da economia no mundo. Apesar de ser omitida por muitas instituições de ensino, a obra de Bastiat continua extremamente atual e merece que você, leitor, a conheça.

Para tanto, escolhi a obra cujo nome intitula esse artigo. Nela, o autor afirma que, na esfera econômica, um simples ato não gera somente um efeito, sendo o primeiro apenas o imediato, visível. Os demais aparecem depois, invisíveis num primeiro momento.

A analogia da vidraça quebrada, tratada logo no início da obra, revela com clareza a tese de Bastiat. Diante de uma vidraça quebrada por uma criança, muitos encaram o fato como infeliz para o dono da vidraça, mas proveitoso para a indústria de vidros, a qual progride precisamente por incidentes como o descrito.

Custando, hipoteticamente, 50 reais para a substituição da vidraça, Bastiat afirma que o incidente ocasionará o desenvolvimento da indústria de vidros na proporção desse valor. Contudo, a premissa de que é bom que vidraças se quebrem para que o dinheiro circule, gerando efeito propulsor no desenvolvimento da indústria é, para o autor, apenas o efeito imediato, o que se vê. O que não se vê é que o pai da criança que pagará os 50 reais por uma vidraça está deixando de gastá-los noutra coisa, tal como a compra de mantimentos ou um novo livro, bens que, agora, já não mais irá adquirir.

Assim, com a ocorrência da quebra da vidraça, seu pagador, após adquiri-la, continua possuindo tão somente uma vidraça, ao passo que, se a quebra do vidro não ocorresse e o montante tivesse sido aplicado na compra de um livro, ele contaria com o livro e, ainda, com a vidraça intacta.

A todo o momento de sua obra, Bastiat nos ensina a enxergar além das aparências que uma vantagem momentânea pode propiciar, fazendo-nos perceber que muitos benefícios econômicos aparentes derivam de um custo oculto que, quando revelado, transformam o suposto ganho social em uma perda.

A obra de Bastiat permanece atual, mesmo depois de mais de 150 anos de escrita, revelando a necessidade de mudança nas políticas econômicas atuais, inclusive no Brasil, que ainda é regido por um Estado que, muitas vezes, furta-se ao dever de analisar aquilo que não se vê.

 

 

Juliana Bravo é formada em Direito pela FDV, Mediadora pela FGV, cursou Governament Studies pela Harvard Kennedy School, é sócia da Stono Consultoria e da Biotríade Arqueologia, é Associada Honorária do Instituto Mais Líderes, Associada I do Instituto Líderes do Amanhã e Vice-Presidente do MESSES