Crônicas

O rio, o bêbado e o louco

O bêbado encontrava-se logo abaixo da Ponte de Ferro. A ponte cruza o Rio Itapemirim. Nos dizeres do tema para o Concurso de Crônicas da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), o Rio é o espelho de sua cidade.

Por: Sergio Damião em 28 de novembro de 2023

O bêbado encontrava-se logo abaixo da Ponte de Ferro. A ponte cruza o Rio Itapemirim. Nos dizeres do tema para o Concurso de Crônicas da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), o Rio é o espelho de sua cidade. E sobre o rio viajaram os estudantes Ana, Pedro, Julianne, Amanda e Betina. Segui em minha andança, segui indiferente, como o restante das pessoas, e assim, também, seguiu o rio. Virei o rosto em direção à Praça de Fátima, um homem forte e alto se destaca, logo percebo que falava em alto e bom som, gesticulava bastante, mesmo com o silêncio do rio e os poucos carros pela Avenida, as palavras soavam sem nexo, nada entendia. Em instantes percebi, tratava-se de um alienado. Seguimos em direções opostas. Segui à beira do rio, margeando seu leito, busquei os ruídos de suas águas, observei as pontes menores bem à frente, ainda que de concreto, formavam uma imagem apaziguadora. Ele seguiu seu destino, seguiu a mesma direção do rio, em busca do mar. No último fim de semana, estava em Vila Velha, fim de tarde de domingo, me preparava para retornar a Cachoeiro. Parei em uma Farmácia com estacionamento amplo. Na entrada estava um homem caído e uma criança que aparentava quatro anos de idade. Ele estava em sono profundo e alcoolizado. A criança de bom aspecto, semelhança paternal com o homem e uma alegria contagiante. Eu e Fabiola entregamos água, biscoito e frutas que levávamos no carro. A criança agradeceu com um beijo e deixou o que recebera próximo ao pai que em seguida despertou. De tudo que contei, o que mais me incomodou foi a visão do louco, o solitário alienado. O rio segue uma direção e assim permanecerá. Eu o verei outras vezes, poderei vê-lo de outra forma, dependerá do dia, das chuvas… O rio depende da intervenção do homem; o ébrio, quando retornei, ele não se encontrava mais, podia estar em alguma sala dos Alcoólicos Anônimos (AA) e salvo socialmente. Não depende de mim, não depende de nós, depende dele mesmo. A criança, quero crer, será salvo pela mãe, pelo incentivo à leitura e aos estudos, assim como nossos estudantes cachoeirenses, ganhadores do Concurso de Crônicas da ACL. O louco seguirá com gestos e palavras desajustadas e ao vento.