Crônicas

Por que sou como sou?

O caráter e a personalidade tem componentes genéticos e muita influencia externa. Por que eu sou como sou? Quais os caminhos que levam uma pessoa tímida do interior a se engajar na luta pelos direitos humanos, das minorias, em defesa dos que sofrem violência, mulheres e idosos?

Por: Marilene Depes em 29 de março de 2021

O caráter e a personalidade tem componentes genéticos e muita influencia externa. Por que eu sou como sou? Quais os caminhos que levam uma pessoa tímida do interior a se engajar na luta pelos direitos humanos, das minorias, em defesa dos que sofrem violência, mulheres e idosos? E que abomina todo tipo de injustiça, de preconceito, machismo, racismo e autoritarismo. Tanta gente me fez chegar onde cheguei e como cheguei, e bem ou mal estou aqui. O auto conhecimento funciona como uma chave a nos abrir as portas internas e externas da nossa vivência.

A grande influência inicial são os pais cujo amor e doação permitiram fortalecer o espírito e vencer barreiras, as irmãs que acolheram e os sobrinhos cuja convivência sempre foi de intensa partilha. Tive possibilidade, que os irmãos não tiveram, de estudar, e foi através do estudo que os caminhos foram se abrindo e até hoje continua sendo meta prioritária. O feminismo surgiu na adolescência quando nem sabia o que era, mas não me conformava com direitos desiguais entre mulheres e homens, e com a subserviência feminina.

Grandes mestres confiaram em meu trabalho e alicerçaram minha vida. Os livros me levaram a conhecer outros mundos e outros contextos, e destaco as obras: “Mulher objeto de cama e mesa” de Heloneida Studart, e “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa PInkola Estéss,”, definitivas na caminhada feminista. Quantas mulheres exemplos, a professora que me envolveu no mundo da história e da religiosidade; a saudosa amiga com seu incentivo constante; às amigas do passado e que se mantém até hoje; a mais jovem que vai carregar minha cadeira de rodas até o mar, num futuro que espero não tão próximo; a amiga jornalista que me fez entender em profundidade quem eu sou, uma suposta conservadora que se descobriu progressista e liberal; e o coletivo de mulheres onde me é possível manifestar o espírito de luta. Meus filhos são meus parceiros de vida e os netos cúmplices e aliados. Meu marido me acolhe com minhas asas em constantes voos, e é meu porto seguro.

Músicos compõem a trilha sonora, Chico, Caetano, Tom, Vinícius e Roberto, e todos os sambistas cujo ritmo faz ferver o sangue. Nos Conselhos da Mulher e dos Idosos e na Academia de Letras é possível manter uma ativa experiência de luta e partilha. Tantas influencias recebi, mas termino confessando uma verdade: meu grande estímulo de vida são as pessoas que não me incentivam ou não me valorizam. Existe algo melhor do que provar o contrário? Sou uma contestadora nata.