Crônicas

Quando chega Setembro

Sou totalmente solar, adoro sol resplandecente, e também curto a chuva porque reconheço o quanto é benéfica à natureza, só não me adapto ao frio. E quando chega setembro o corpo vai se vitalizando e o espírito se eleva.

Por: Marilene Depes em 28 de setembro de 2020

Sou totalmente solar, adoro sol resplandecente, e também curto a chuva porque reconheço o quanto é benéfica à natureza, só não me adapto ao frio. E quando chega setembro o corpo vai se vitalizando e o espírito se eleva. Na verdade gosto mesmo é do verão, e setembro, simbolicamente, abre as portas para sua chegada.
Setembro foi o mês escolhido para nosso casamento, após cinco anos de namoro e noivado, como era habitual naquela época. Nosso relacionamento é baseado principalmente no amor, sentimento que se sobrepõe a todas as diferenças, e quando falo delas, não são poucas – religiosas, políticas, de comunicação, de cuidados com a saúde, de gostos específicos como filmes, alimentação, sonhos e realizações pessoais. Ele cozinha e eu leio, ele é introvertido e eu extrovertida, ele é silencioso e eu barulhenta. Sou uma sonhadora inveterada e otimista, ele é um realista pessimista. Estou sempre acreditando que dias melhores virão, e ele teme pelo futuro, eu vivo e curto o dia de hoje e ele se preocupa com o que virá, sou sanguínea e ele é fleumático. Curtimos dançar e assistir aos jogos do flamengo e sentimos prazer em estarmos juntos, mesmo calados e cada um na sua, e não temos hábito de viajar sozinhos e não frequentamos ambientes sociais sem a presença do outro. Nessa pandemia as diferenças se sobressaíram, se avolumaram, mas não foram maiores do que a nossa capacidade de superação. Somos a prova viva de que amor existe, porque sem ele já não estaríamos juntos – não teria nenhuma dificuldade em acabar com uma relação insatisfatória. E assim unidos estamos há cinquenta e oito anos, entre namoro e casamento, e celebrando bodas de antimônio, um metal pesado comumente usado para fazer ligas, para unir outros elementos, como somos o elo que une a família que construímos, com dificuldade, mas sempre com excesso de zelo e cuidados.
Em todos esses anos vivemos dias de glória e de tristeza, glória pelas vitórias dos filhos, chegada dos netos, muitas viagens, o prazer em construir e manter nossos ninhos e a realização do projeto familiar que é a Vila Aconchego; e tristeza causada pelas doenças, ambos sofremos pela gravidade delas, e felizmente saímos incólumes. E neste setembro comemoramos a vida, e a possibilidade de ficarmos juntos por muitos anos mais, na aceitação das diferenças, nas tribulações, mas principalmente na fidelidade e no amor, o sentimento maior.