Crônicas

Sonho e frustração

A Academia de Letras de Cachoeiro de Itapemirim fará 60 anos de sua fundação no próximo 19 de maio. Ela foi fundada por um grupo de jovens valorosos e sonhadores, todos amigos da cultura, que reunidos na Casa do Estudante, e com a adesão de alguns professores decidiram funda-la.

Por: Marilene Depes em 28 de março de 2022

A Academia de Letras de Cachoeiro de Itapemirim fará 60 anos de sua fundação no próximo 19 de maio. Ela foi fundada por um grupo de jovens valorosos e sonhadores, todos amigos da cultura, que reunidos na Casa do Estudante, e com a adesão de alguns professores decidiram funda-la. Desse grupo de estudantes continuam participando da Academia Evandro Moreira, Solimar Soares da Silva, Bruno Torres Paraiso e Paulo de Tarso Medeiros.
Numa tentativa de resgatar a história, imaginei organizar uma reunião solene na sede da Casa do Estudante, exatamente onde a Academia fora fundada e onde aconteciam os fatos de destaque na cultura e política da nossa cidade.
Recordo-me da Casa do Estudante como um local de muita vida e vibração, o reduto da juventude estudantil, onde os jovens podiam se divertir em matinês dançantes, em que grupos de teatro se apresentavam, em que grupos musicais se formaram, em que jovens idealistas se reuniam para discutir política e de onde saíram grandes líderes, e onde os estudantes de menos renda podiam receber aulas de reforço e até se preparavam para o vestibular. Nas década de sessenta, quando cursei o colegial na Escola de Comércio e o Científico no Liceu Muniz Freire, estudantes que se destacavam como lideranças formavam chapas e eram eleitos para representar os demais através dos Grêmios Estudantis. Aprendia-se a votar e a respeitar a democracia através das disputadas eleições dos Grêmios. As carteiras de estudantes podiam ser confeccionadas pelo próprio Grêmio ou na sede da Casa do Estudante, e era um documento de grande valor numa época em que não se tirava Carteira de Identidade antes dos 18 anos. Com a Carteira de estudante ia-se aos cinemas, assistia-se as peças teatrais e os shows pela metade do preço. E frequentava-se as deliciosas matinês dançantes da Casa do Estudante.
Retomando a imaginação, que é fértil, comemorar o 19 de maio no local de origem da Academia de Letras, com seus fundadores presentes narrando os fatos ao vivo seria um resgate da história! A sede da Casa do Estudante se mantém no mesmo local, há uma placa indicativa de destaque e para lá nos dirigimos, eu e a Acadêmica Maria Elvira – uma sonhadora só é pouco! Adentramos ao local e a sensação foi de terra arrasada, onde a enchente destruiu o que restava dos resquícios da sua história gloriosa. Fui tomada pela mesma sensação que sinto diante da histórica casa dos Tanure, que está desmoronando, local perfeito para um museu dos libaneses que tanto ajudaram à economia da cidade, o Iole Clube que representa uma fase tão rica do esporte e também a Casa do Estudante, que em respeito ao seu passado glorioso, no mínimo teria que ser preservada.