Crônicas

Tocando em frente

Recebemos do casal amigo o convite para passarmos algumas horas juntos, pelo simples prazer do encontro e de colocarmos o papo em dia.

Por: Marilene Depes em 10 de agosto de 2020

Recebemos do casal amigo o convite para passarmos algumas horas juntos, pelo simples prazer do encontro e de colocarmos o papo em dia. Após quatro meses e meio de confinamento saímos de casa na maior alegria, fomos para o sítio deles e o trajeto podia ser comparado, tal a minha alegria, a uma viagem internacional. Foi a nossa primeira saída, só nós quatro, respeitando todas as regras de distanciamento social, sem efusões, apenas a alegria do reencontro, o que muito representa nesses tempos difíceis. Foram horas abençoadas, que não desfrutávamos há bastante tempo. Aos poucos vamos nos adaptando ao novo normal, de como deverá ser a nossa vida daqui em diante. Abrimos nossa casa para os netos, sem abraços, mas com alegria e com o almoço de domingo que é um deleite para todos. Cansei de caminhar sozinha, contratei uma personal que vem à minha casa e na distância recomendada,
ambas de máscara, retorno a um ritual de toda vida. Decidimos fazer as compras de supermercado, em horários de
pouco movimento e sempre respeitando as regras, muito álcool gel e máscaras. E como uma adolescente agendei a cabeleireira, em horário individual, fui ao médico cuja consulta adiava desde março. E retornamos ao trabalho, num tempo menor, tudo devagar, bem premeditado, anoto dia e hora de cada saída e percebo que após essas decisões estou conseguindo até respirar melhor, deve ser a bendita liberdade. O período inicial da pandemia foi difícil, não tínhamos conhecimento de nada e éramos bombardeados pelas notícias mais esdrúxulas. O medo e o pavor tirava o sono e a paz. O tempo, senhor da razão, vai nos direcionando para um futuro em que, mesmo incerto, há uma luz de esperança. Para as pessoas idosas ou com comorbidades, as notícias não traziam nenhum alento. Assistíamos nos hospitais, principalmente na Europa, os idosos sendo preteridos em favor dos jovens no momento de serem transferidos para os leitos de UTI. Realmente não vimos isso acontecendo aqui no Brasil, onde os idosos são dignamente protegidos pela lei e pelo poder público. E principalmente pelo humanismo dos nossos médicos. Não iremos promover festas e nem participar de aglomerações, como o fazem os inconsequentes, e nem há clima para tal no meio de uma pandemia, mas retornaremos a conviver com nossos amigos e familiares, sempre em número reduzido e respeitando todos os protocolos. Quem vive com medo vive pela metade, e o medo pesa toneladas e
tira o prazer de tudo. Decidimos pela vida e por retornar a viver.