Crônicas
Toda vida importa
Assisto estarrecida ao vídeo da morte do negro George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos. Foi assassinado por um policial branco num rito de crueldade inimaginável
Por: Marilene Depes em 8 de junho de 2020
Assisto estarrecida ao vídeo da morte do negro George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos. Foi assassinado por um policial branco num rito de crueldade inimaginável, abordado por quatro policiais que o consideraram suspeito e ao invés de só algemá-lo, o jogaram de bruços no chão, três deles ficaram sobre o corpo e um ajoelhou sobre o pescoço e não atendeu aos pedidos da vítima que bradava por ar. No dia seguinte iniciaram os protestos e simultaneamente a violência por conta da repressão. A população destruiu um supermercado e ateou fogo na delegacia, e daí em diante a onda de violência se disseminou por todos os estados americanos. O povo – de todas as etnias, grita por justiça e pela vida dos negros que são vítimas constantes da violência policial, e o slogan dos manifestos é: “A vida dos negros importa”. Como importa a dos brancos, dos emigrantes, das crianças, dos idosos, dos doentes, dos gays, das mulheres, dos deficientes, dos índios, dos favelados, toda vida importa.
A morte de George Floyd causou indignação no mundo, mas não se nega que o racismo existe, no Brasil e em muitos outros países, e nos Estados Unidos sempre se apresentou de uma forma muito violenta. O Presidente Donald Trump tenta minimizar a rebelião do povo alegando que os manifestos são da extrema esquerda, objetivando se eximir da própria responsabilidade e justifica-la. Não, o que causa a revolta é a injustiça, o povo americano clama por justiça.
E aqui no Brasil uma situação gravíssima se avoluma no meio de três crises – governo, saúde e econômica, sem se vislumbrar uma saída, e constatamos que a vida de muitos também não importa – principalmente favelados, idosos e doentes. Estamos à porta de uma verdadeira calamidade sendo perpetrada contra os mais indefesos, diante da um movimento eugênico que atinge as massas humanas consideradas inferiores. Assistimos a pandemia chegando as favelas e se disseminando entre o povo que não tem acesso a saúde, ao saneamento básico, a educação, a moradia e a alimentação. E entre os indígenas que não possuem defesa natural para as doenças dos brancos. Me angustia a morte de centenas de irmãos a cada dia e a ausência de um projeto de governo que centralize as ações e que transmita segurança e confiança ao povo. Estamos no meio de uma tormenta sabendo que países vizinhos, com medidas corretas, não tiveram que transpor, e não avistamos a luz no fim do túnel. E apreensivos também com os manifestos que já começam a eclodir nas ruas.