Crônicas

Tudo mudou muito rápido

Em meio a dor implacável da pandemia, o país vive momentos de perplexidade com a possibilidade de Lula ser o próximo principal candidato a presidente da República a enfrentar Bolsonaro.

Por: Wilson Márcio Depes em 15 de março de 2021

 

Em meio a dor implacável da pandemia, o país vive momentos de perplexidade com a possibilidade de Lula ser o próximo principal candidato a presidente da República a enfrentar Bolsonaro. Bolsonaro vinha contando como favas contadas sua reeleição. Não havia candidato que lhe pudesse oferecer perigo. Quem ameaçou, ele tirou de campo. Vide, na espécie, o juiz Sérgio Moro, por exemplo e paradoxalmente. Ninguém pediu minha opinião. Ainda mais política. Mas a decisão do Supremo Tribunal Federal que, em tese, devolve o direito de Lula em ser candidato a presidente, movimentou o país. O presidente foi despertado até mesmo em relação à pandemia. Ele que flanava, livre e solto, como favorito para reeleição. Mesmo que mais de 2 mil pessoas estejam morrendo todos os dias por falta de vacina, que ele sempre renegou.

Fecho o pano. Volto um pouco na história. O “esse de jeito nenhum” já custou caro ao Brasil. Em 1950, ensina Elio Gaspari, o jornalista Carlos Lacerda profetizava: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. Getúlio foi eleito, tomou posse, governou até agosto de 1954, suicidou-se e entrou na História. A revolução que Lacerda queria só veio dez anos depois. Lacerda tinha credenciais para vencer a eleição de 1965. Fazia um governo brilhante no falecido Estado da Guanabara, mas deveria disputar com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que dera ao Brasil “50 anos em cinco”. Até os primeiros meses de 1964, circulavam dois tipos de “esse de jeito nenhum”. A esquerda não queria uma vitória de Lacerda, e uma parte da direita não queria a volta de Kubitschek.

Depois da deposição de João Goulart, a base militar da nova ordem não admitia entregar o poder a JK. Lacerda gostou da ideia, e o ex-presidente foi cassado. Por quê? Corrupção. Juscelino era acusado de corrupto e proscrição de JK o caminho para um governo “democrático e honesto”. Tudo isso ensina Gaspari. Chego ao fim da primeira etapa. O “PT não” colocou Jair Bolsonaro na Presidência. Os eleitores podiam ter colocado Geraldo Alckmin, Ciro Gomes ou João Amoedo, mas quem teve mais votos foi o capitão. Tudo mudou rapidamente. Só os eleitores dirão “o que não pode”. Ou… Voltaremos ao assunto.