Crônicas

Um rei em sua terra…

Escrevo antes do show de Roberto Carlos por imposição do tempo. Na minha época de jornal, lá atrás, às vezes tinha que redigir uma notícia cinco minutos antes do fechamento da edição que ia pra máquina impressora.

Por: Wilson Márcio Depes em 24 de abril de 2023

Escrevo antes do show de Roberto Carlos por imposição do tempo. Na minha época de jornal, lá atrás, às vezes tinha que redigir uma notícia cinco minutos antes do fechamento da edição que ia pra máquina impressora. Claro que na revista temos mais tempo. A gente chamava de “matéria fria”. Só que, hoje, as coisas se invertem: escrevo antes do show. Quer dizer, antes do fato acontecer. Mudo de assunto, mas bato na mesma tecla. Lembro-me que a última vez que que tive com RC, o Hotel San Carlo ainda estava em funcionamento. Ele me puxou até a janela, onde vislumbrava o rio, e disse, em lágrimas: “Tenho tanta saudade desse nosso rio magricela! Se pudesse, uma vez por semana, pegava o avião e vinha dormir aqui. Só pra ficar ouvindo esse barulho do rio e reviver o passado, do meu inesquecível passado, por aqui. Lembro até do carrinho de rolimã com o qual descia no Morro Farias, perto de minha casa. A Rádio Cachoeiro, tudo é saudade bicho, e dói…”.
Dei um tempo, para ele se recompor, e retruquei: – Roberto, Dr. João Madureira tem uma frase antológica sobre o tema. Dizia ele: “Fácil é ser cachoeirense ausente; difícil é ser presente”. Ele se desdobrou numa gargalhada. Passaram alguns segundos, ele me perguntou: “E o Moringueiro?”. Respondi: “Taí. No livro que te dei (Fotocrônicas II)”. Disse que ia ler todo e lembrar desses personagens, mas alguns não era do seu tempo. Lembrou de “Olha-o-Delicioso” que encontrava quando saía da aula do Cristo Rei. Fomos interrompidos por José Nogueira, com aquele jeitão cheio de carinho e pressa, e foi logo dizendo: “Olha, Roberto, vê se não vai perder a hora, não!!!”.
Antes de nos separamos, ele nos convidou para um show que ia fazer em Macaé-RJ, logo depois daqui. “Lá poderemos conversar melhor no camarim”. Fomos. Eu e Nogueira. Lá, pude expor a ideia de um corredor cultural, que abrangeria toda sua rua. Foi aí que o bicho pegou. “Temos que desapropriar alguma casa?”, perguntou. Sim, respondi. Na mesma hora descartou a ideia. Não gostava de atrito. Aliás, com toda razão, por isso chegou a ser rei… Mudou logo de ideia e contou uma piada para desanuviar o ambiente. E tudo ficou bem. Aliás, seguindo Shakespeare: “Tudo está bem, quando tudo acaba bem”. Roberto é assim. O maior cantor do Brasil. Muitas vezes acho que o cachoeirense tem toda razão em ser muito bairrista…