Crônicas
Um violão quebrado
Senti muito a morte de Sérgio Ricardo. Minha adolescência foi ao som de sua música “Nosso Olhar”, composição extraída da bossa nova.
Por: Wilson Márcio Depes em 3 de agosto de 2020
Senti muito a morte de Sérgio Ricardo. Minha adolescência foi ao som de sua música “Nosso Olhar”, composição extraída da bossa nova. Dizia: “Viu como o mundo inteiro/ ficou pequeno / e em nossas mãos/ virou veneno que a noite bebeu/ pelo nosso amor.” Eu o conheci no Morro do Vidigal, onde morou muito tempo. Sua luta contra a ditadura militar foi implacável. Ficou conhecido por quebrar seu violão e atirá-lo na plateia num Festival da Canção. Até que um dia a Casa do Estudante, sob presidência de Valadão, o contratou para fazer um show, aqui em Cachoeiro. Depois do show, eu e Valadão saímos com ele para conhecer a “noite cachoeirense”. No outro dia, gentilmente, respondeu a uma entrevista no jornal O Momento, que dirigi junto com um grupo de estudantes de esquerda. Depois, foram direto para a grande imprensa. Mas estava falando do Sérgio Ricardo. Era um libanês, nascido em São Paulo, cujo sobrenome era Mansur. Não creio que fosse parente dos amigos Higner e Ronald Mansur. Mas não custa perguntar. Eles mantém os fatos históricos intactos. Mas, continuando, ficam a lembrança e a saudade doída de Sérgio que ajudou a escrever a História do país com muita dignidade. Inclusive com a composição da trilha sonora de “Deus e o Diabo na terra do Sol”. Um filme brasileiro de 1964, do gênero drama, dirigido por Glauber Rocha. Considerado um marco do cinema novo, foi gravado em Monte Santo, Bahia. Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Foi listado como “clássicos nacionais”. Sertanejo Manoel e sua mulher Rosa levam uma vida sofrida no interior do país, uma terra desolada e marcada pela seca. No entanto, Manoel tem um plano: usar o lucro obtido na partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra. Quando leva o gado para a cidade, alguns animais morrem no percurso. Chegado o momento da partilha, o coronel diz que não vai dar nada a Manoel, porque o gado que morreu era dele, ao passo que o que chegou vivo era seu. Manoel se enfurece, mata o coronel e foge para casa. Tudo agora é história. Bela história.