Crônicas

Athayr Cagnin

Anos atrás presenciei um momento histórico de Cachoeiro de Itapemirim. Foi a comemoração dos noventa anos de idade do poeta Athayr.

Por: Sergio Damião em 30 de maio de 2022

Anos atrás presenciei um momento histórico de Cachoeiro de Itapemirim. Foi a comemoração dos noventa anos de idade do poeta Athayr. Do professor, como gostava de ser chamado. Na ocasião, antes de suas palavras finais: Moema lembrou o pai, Deusdedit Baptista, e recitou uma das poesias do Cagnin; Mirtes Machado levou seu diário com as observações e elogios escritos pelo professor em 1947; Wilson Rezende relatou algumas histórias do amigo. A imortalidade do Athayr foi atestada naquele momento. Não só pela Academia Cachoeirense de Letras, pelos seus versos e rimas, mas também pelo carinho recebido dos muitos alunos ali presentes. Eu pensei na semelhança do Athayr com o rio Itapemirim, razão maior da cidade. O Athayr, aparentemente abatido – pela curvatura do tronco e passos lentos, logo é revigorado e expõe toda a força da memória, lucidez e impostação da voz. Assim é o nosso rio, com as chuvas ele volta encachoeirado. Se não pode ser navegado, não importa; se não serve à economia, serve à nossa imaginação. Na época, chovia bastante, a força do rio era grande. Em um domingo, pela manhã, por um período curto, como um pequeno verso, o bastante para homens e crianças se juntarem ao Itapemirim. Ao caminhar junto ao rio, eu vi uma menina de tranças em alegre brincadeira com o pai. Com uma linha e anzol, uma brincadeira de pai e filha junto às águas do rio. Longe dos homens, bem no meio do rio, onde as forças das correntezas se mostravam mais intensas, procurei as garças, não as encontrei. A história dos sessenta anos da Academia Cachoeirense de Letras será contada por seus Fundadores (Bruno Torres Paraíso, Evandro Moreira, Paulo de Tarso Medeiros, Solimar Soares da Silva e José Augusto Marcos Coutinho) durante a Bienal Rubem Braga – 2022. O confrade, também imortal, Estelemar Martins, em seu livro didático de poesias, define o poeta como aquele que tem a arte de cantar o belo, materializar a alma na combinação de versos, lapidar rima como um diamante raro. A poesia de Cachoeiro ficava mais bonita quando Athayr combinava perfeitas rimas para sua Diva. Com a Bienal e visita à Casa dos Braga, na lembrança do Athayr, com a poesia e a crônica, suporto melhor os dias tristes da política nacional.