Crônicas

Boatos

Cambada de gente para inventar coisas. Quando me falaram levei um susto tão grande que meu coração disparou.

Por: Sergio Damião em 12 de janeiro de 2022

“Está correndo um boato de que você morreu. Confirma?” Respondi: estou bem vivo. Um abraço. “Graças a Deus. Cambada de gente para inventar coisas. Quando me falaram levei um susto tão grande que meu coração disparou.” O diálogo aconteceu através de mensagem de WhatsApp, em um domingo à noite. Quando recebi a mensagem fiquei em dúvida sobre o “confirma”. Confirmar minha morte ou o boato? Bem… Achei melhor afirmar que estava vivo, portanto, a morte era um boato. Agradeci pela preocupação que demonstrava. De terça a domingo, nos cinco ou seis dias da semana, foram intensos em notícias. Mais ainda, por serem em comunicação instantâneas, aleatórias – mensagens online. Na terça, pela manhã, me encontrava no consultório, as pessoas ligavam e a secretária me informava: “Doutor, ligaram e pediram seu nome completo, queriam fazer uma oração pelo senhor.” E o que você disse, perguntava. “Disse que o senhor estava vivo e estava atendendo normalmente. Ela aproveitou e marcou uma consulta para amanhã à tarde.” Nos grupos de WhatsApp perguntavam por mim e eu respondia, quando afirmava a presença em vida, logo comentavam: “Se não foi o Damião, deve ter sido outro colega médico.” O boato é bem diferente do “boca a boca” de tempos atrás. No “boca a boca” se checava a informação e logo o desmentido. No boato atual, embora rápido, é uma mensagem gravada, e pode ser lida dias depois, e persistir na tela do celular ou do computador por um tempo bem maior que na memória dos que recebiam a informação do “boca a boca”. Em tempos atuais, não precisamos da presença física do comunicador, o mundo é virtual. Tanto que, no dia seguinte, na quarta-feira, em grupo de WhatsApp, a mensagem de confirmação da morte de um dos médicos Sergio, permanecia. Com as mensagens atuais, morrer ou viver, não afetam as emoções. É apenas isso, uma mensagem na tela. De tudo, veio a esperança. Recebi uma palavra, com a pessoa me falando, bem próximo aos meus ouvidos: “O boato da morte é esperança de muitos anos de vida.” Fiquei com a impressão que, no Brasil, e em Cachoeiro, o velho ditado popular que aprendi – “o povo aumenta, mas não inventa”, com a rede social atual, se transformou em “o povo passou a inventar”. Nas minhas leituras e crônicas posso inventar – criar um mundo de fantasia, inofensivo, algo bem diferente do mundo virtual da rede social.