Especial

Camilo Cola: O homem a partir do olhar de quem conviveu com ele

Camilo Cola é uma das figuras mais inspiradoras que a história recente permitiu estar entre nós durante 97 anos. Esteve na Segunda Guerra Mundial, passou dificuldade na infância, empreendeu e consolidou uma marca reconhecida internacionalmente: Viação Itapemirim.

Por: Redação em 7 de junho de 2021

 

Um ser humano que tem a sua vida marcada por dedicação ao seu país e seu povo. E isso é sem qualquer exagero. Camilo Cola é uma das figuras mais inspiradoras que a história recente permitiu estar entre nós durante 97 anos. Esteve na Segunda Guerra Mundial, passou dificuldade na infância, empreendeu e consolidou uma marca reconhecida internacionalmente: Viação Itapemirim. Sua trajetória nesse plano terrestre se encerrou na noite de um sábado, dentro de casa.

Estar na guerra foi o início de sua jornada caracterizada por se doar ao próximo. Dali para frente, tudo o que fez foi pensando na coletividade. Foi candidato ao senado, deputado federal por duas vezes, trabalhou duro em toda sua vida e esteve sempre preocupado em gerar emprego.

Faltariam páginas para descrever com riqueza de detalhes todo o seu legado no meio empresarial, político e social. Por isso, ouvimos pessoas que foram próximas a Seu Camilo, como era chamado, para tentar descrever quem era o ser humano por trás do homem público.

 

“Tinha capacidade de ir ao futuro, voltar e construir a estrada para nos levar até lá”

Celmo de Freitas foi mais uma pessoa que começou “de baixo” nas empresas de Camilo Cola e foi crescendo. Em seus mais de 27 anos de empresa, construiu também uma relação de proximidade com Seu Camilo. Ele entrou como trainee e foi até a última posição na Marbrasa, empresa do setor de mármores e granito. “Durante todos esses anos, permaneci 15 deles aproximadamente com a presença constante de Seu Camilo. Apesar das distâncias, ele conseguia se fazer presente, principalmente, se colocando ao lado dos colaboradores para vencer os desafios”, contou Celmo. “Seu Camilo estava à frente de seu tempo.

Ele tinha uma capacidade como se fosse no futuro, voltasse e construía a estrada até lá. Foi um grande privilégio poder conviver com ele. Pessoa que aprendi a respeitar e admirar pelos exemplos que ele dava. Nos motivava a prosseguir e alcançar os seus objetivos”, acrescentou Celmo. E finalizou: “Ele está em outro plano, seguindo a jornada dele. Se Seu Camilo tivesse tido a oportunidade de nos dirigir uma palavra antes de partir, olhando para trás, para tudo o que construiu, talvez falasse o que sempre dizia em reuniões: – olha, se não é tudo que você esperava, foi o máximo que eu consegui fazer”. “O senhor fez muito, Seu Camilo. Vá com Deus e um dia a gente se encontra”.

 


 

“Ele via o outro lado da montanha, sem ter que ir lá”

Alberto Moreira trabalhou exatos 45 anos ao lado de Camilo Cola. Alberto estava com Camilo em seus últimos suspiros. É uma relação que começou por motivos profissionais e ao longo do tempo se tornou de pai e filho. Alberto, que perdeu o pai aos 10 anos de idade, começou a trabalhar na Itapemirim aos 19, de carteira assinada, em 1 de junho de 1976. Em 1982, por conta da campanha de candidato a senador de Seu Camilo, Alberto foi transferido e, desde então, foi funcionário da família, iniciando ali uma relação de proximidade com um dos maiores nomes da história do empreendedorismo capixaba.

Em seu depoimento exclusivo para a Revista Leia, Alberto tentou resumir em quase 20 minutos, quatro décadas e meia de história. Com a voz embargada pelo choro em vários momentos, ele contou que “perdi meu pai ainda novo e, por conta de toda nossa trajetória com Seu Camilo, no sábado o meu sentimento foi de perder novamente um pai, um amigo, um conselheiro”. Alberto conta que Seu Camilo era uma pessoa que gostava de incentivar seus funcionários a irem além. “Duas coisas me marcaram muito: a primeira foi como ele construiu a empresa dele, remanejando funcionários. Ele nunca se contentou que a pessoa fosse só aquilo que estava delegada a fazer. Ele tinha capacidade de perceber o potencial de você fazer um pouco mais. A outra coisa, é a capacidade de lidar com a gente, respeitando a nossa limitação. E desafiava a gente a ser mais do que aquilo que estava sendo convidado a fazer. E isso aconteceu com vários outros funcionários dentro da empresa. Comigo, agarrei a oportunidade e fiquei com ele até o ultimo dia”, contou Alberto. Ele disse também que Camilo Cola era uma pessoa que gostava de ditados e máximas populares. “Quem acorda cedo bebe água limpa”; “mais faz quem melhor manda”; e outros desse tipo, que incentivam a pessoa a se dedicar. E acrescentou: “Seu Camilo via o outro lado da montanha, sem ter que ir lá. Um patriota. Homem cívico. Respeitador. Comprometido com o trabalho. Só fez na vida trabalhar.

Rodava as empresas do Oiapoque ao Chuí. Às vezes, na linha Rio de Janeiro x São Paulo, entrava no ônibus, perguntava os passageiros se estavam satisfeitos e se tinham sugestões. Ele ia no varejo da empresa. Nas oficinas. Busca as informações e via se tinha alguma ideia que podia melhorar e aprimorar”. Nos últimos momentos de vida de Camilo Cola, Alberto estava com ele. “Fiquei à disposição dele e da família por conta do tempo que já estávamos juntos e o sentimento que nos unia. A gente veio pra Cachoeiro, depois de passar mais de um ano em Pindobas. Ele tinha tomado a segunda dose da vacina. Passou mal por volta de 21h50. A doutora Andreia, neta dele, tinha acabado de chegar para passar o final de semana com ele. Naquele momento em que Seu Camilo passou mal, parecia uma parada cardíaca, respiratória. A gente não sabe. Foi muito rápido. Então, de 1982, até o último sábado, fui funcionário deles”, disse Alberto.

 

 


 

” Todos nós que tivemos a oportunidade de aprender com ele”

Maxwell Cola Gazola, sobrinho do Camilo Cola “Como parente bem próximo, quando comecei a me entender por gente, não conseguia compreender direito o porquê todos o tratavam por “Seu Camilo” ou “Seu Cola”. Além de convivermos como família, tive o privilégio de trabalhar junto dele e participar da construção de vários projetos. Todos nós que tivemos a oportunidade de aprender com ele, agradecemos muito por termos cursado a “universidade” da grande Viação Itapemirim.

Digo isso, pois, ele sabia extrair mais do que estávamos acostumados a fornecer. Assim como fazia consigo mesmo: dava o seu melhor em todas as situações, como numa eterna “guerra”. E foi assim, de vitórias, percalços e mais vitórias, que ele construiu a sua trajetória empresarial e política por todo o país. Carregando consigo as suas origens e engrandecendo o nome da nossa amada cidade por onde passava.

Ele era firme, um guerreiro obstinado e trabalhava incansavelmente para trazer novidades para os seus negócios. Décadas antes das universidades lançarem o conceito de benchmarking, ele visitava os EUA e a Europa na tentativa de trazer para o Brasil novas ideias. E foi em uma dessas visitas que nasceram os ônibus: leito, tribus, entre outros. Hoje, com sua partida, eu consigo entender que aquilo que eu achava estranho desde pequeno em chamá-lo de Seu Camilo, era a vida mostrando que ele já era e continuaria a ser um Grande Homem.”

 


O principal marco da trajetória de Camilo Cola foi a criação da , que fez parte da história de uma geração, em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo.
Primeiro, começou com uma única linha de ônibus que fazia o trajeto entre Cachoeiro e Castelo. Depois, em 1953, foi fundada a Viação Itapemirim com 16 veículos e 70 funcionários.

Tudo isso aconteceu depois que Camilo Cola voltou da 2ª Guerra Mundial. Ele integrou o pelotão de combatentes da FEB e entrou para a história após expulsar os alemães de Monte Castello, no Norte da Itália, em 1945.

De volta ao Brasil, o ex-combatente conseguiu um empréstimo para comprar seu primeiro caminhão, dando início a uma das maiores empresas de transportes do Brasil, a Itapemirim.

A Viação Itapemirim foi alcançando novas rotas e com o passar dos anos, já ligava o Espírito Santo a diversos Estados de outras regiões, chegando até o país vizinho, Uruguai.

Em seus melhores momentos, a viação estava entre uma das maiores da América Latina. Já na década de 1990, a Itapemirim atuava também no serviço aéreo de transporte de carga expressa.

 


 

“Uma pessoa fantástica, um homem empreendedor e visionário”

Tales Machado, empresário e amigo do Camilo Cola: “Sempre tive o sonho de conhecer o Seu Camilo. Há 10 anos atrás, o meu sonho se realizou e estreitamos os nossos laços. Todas as vezes que ele me chamava para conversar, eu ia de imediato e me lembro com detalhes de todos os nossos encontros. Uma pessoa fantástica, um homem empreendedor e visionário. Estava sempre atualizado de tudo o que estava acontecendo no mundo, sendo de qualquer área e em qualquer setor.

Ele tinha um conhecimento impressionante e admirável! E nunca parou. Todas as vezes que nos encontramos ele falava sobre os seus novos empreendimentos, os projetos que queria tocar e as novidades dos setores que suas empresas atuavam. E ele sempre fez tudo com muita excelência, em todos os negócios que ele tinha e que eu tive o prazer de visitar e conhecer, nunca vi nada fora do lugar ou mal feito. Tudo com um nível de excelência e exigência muito grande. Ele é um exemplo de força de vontade e uma motivação para continuarmos fazendo dar certo, assim como ele fez.”

 

 


 

Políticos lamentaram a morte do empresário

O presidente Jair Bolsonaro destacou a atuação de Cola como ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial. “Obrigado por garantir nossa liberdade na luta contra o nazismo e fascismo”, escreveu Bolsonaro em sua conta oficial do Twitter.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou que o empresário ajudou a profissionalizar o transporte no Brasil. “Lamento o falecimento do visionário Camilo Cola, fundador da Itapemirim e que ajudou a profissionalizar o transporte no Brasil. Em 2020 pude agraciá-lo com a Medalha Barão de Mauá, honraria àqueles que fizeram pelo setor”, disse Tarcísio, também no Twitter.

O prefeito de Cachoeiro, Victor Coelho (PSB), também lamentou a morte em uma rede social. “Recebi a notícia do falecimento, aos 97 anos, do sr. Camilo Cola. Um homem a frente do seu tempo. Empresário, ex-deputado federal, mas acima de tudo um visionário. Cachoeiro perde um de seus nomes mais ilustres, que levou nossa cidade ser conhecida nos quatro cantos do Brasil”, postou o prefeito.

O ex-governador Paulo Hartung falou da importância de Cola para a economia do estado e do Brasil. “Recebo com tristeza a notícia da morte do empresário Camilo Cola, importante nome na história econômica do Espírito Santo e do Brasil. Sua jornada no setor de transportes foi exitosa e marcante. Meus mais sinceros sentimentos à família e aos amigos”, explicou.