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Estado laico

É aquele que permite, respeita e protege todas as religiões e até o ateísmo. Sou católica praticante e nas igrejas que frequento, Nossa Senhora da Consolação e São Geraldo Magela, os padres não usam o púlpito para pedir votos ou discutir política partidária com os fiéis.

Por: Marilene Depes em 31 de outubro de 2022

É aquele que permite, respeita e protege todas as religiões e até o ateísmo. Sou católica praticante e nas igrejas que frequento, Nossa Senhora da Consolação e São Geraldo Magela, os padres não usam o púlpito para pedir votos ou discutir política partidária com os fiéis.
Nem sempre foi assim, na Idade Média os papéis da Igreja e o Estado se misturavam, o que foi se mantendo até os tempos modernos. Aqui no Brasil alguns padres se candidatavam, outros participavam das comunidades eclesiais de base onde se discutia muita política. Contudo os partidos políticos possuem suas ideologias que defendem os interesses de um grupo determinado, e o Padre deve estar a serviço de todos. Segundo o Padre Cláudio Menegazzi, “O partido político da Igreja é sempre a vida, a dignidade humana, à exemplo de Jesus que não teve grupo político e que empenhou-se em defender os pobres e oprimidos”. Os padres são cidadãos e podem exercer sua cidadania votando, opinando, mas se quiserem se candidatar devem pedir licença ao Bispo e se afastar do Ministério, segundo o Código de Direito Canônico promulgado em 1983.
Estamos vivendo um tempo de radicalismo, de candidatos usando os púlpitos como palanques e participando dos eventos de cunho religioso com objetivos eleitoreiros. Uma das conquistas do mundo atual é a separação entre religião e política. A política cuida da cidadania e do bem estar do cidadão e suas opções sociais e cívicas, a religião trata da espiritualidade e da fé, o que leva ao cuidado amoroso com os mais necessitados. Não cabe as religiões ocuparem papel do Estado.
E no meio dessa confusão ocorrem absurdos, como os ataques seguidos à Igreja Católica. Na festa da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, grupo de militantes se misturaram aos fiéis, atacaram jornalistas e vaiaram o celebrante gritando palavras de ordem dentro do Santuário. No Paraná um padre foi vaiado por ter citado a opção preferencial pelos pobres, a fome e a miséria. O Padre Júlio Lancellotti que se dedica a Pastoral da população de rua é criticado por sua defesa aos marginalizados. Um dos religiosos mais respeitados do Brasil, Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, foi chamado de comunista porque vestia paramentos vermelhos e fez uma postagem refletindo sobre o radicalismo que tem causado brigas até entre familiares e amigos, e alertou sobre os tempos em que o fascismo ascendeu ao poder e sugeriu calma e discernimento. E os ataques continuam, vivemos tempos difíceis.