Crônicas

Estamos todos no mesmo barco

Mas a primeira pergunta que acontece, naturalmente, é como podemos aproveitar positivamente o vírus?

Por: Wilson Márcio Depes em 20 de março de 2020

Não sei se foi o Veríssimo ou se li por aí, mas a verdade é que é muito, muito difícil se manter zen num momento desses. Sou de uma geração que nunca enfrentou uma pandemia. Só faço, dentro do possível, o que os epidemiologistas mandam. E olha que estou muito orgulhoso de ter no Brasil profissionais tão preparados como os nossos. Prefiro não politizar qualquer discussão nesse momento, uma vez que a situação de despreparo, em todos os sentidos, do presidente da República é uma coisa óbvia, e, muitas vezes, doentia sob o ponto de vista existencial. Fiquei muito sensibilizado com a reclamação de um casal de avós. Moram num prédio e o filho e netos num outro muito distante. Resolveram, há pouco tempo, morar todos no mesmo prédio e, por coincidência, no mesmo andar. Tudo preparado para serem muito felizes. A pandemia veio como uma onda violenta que desfez todos os planos, jogando tudo pelos ares. Hoje, neste exato momento, moram – casal de avós e netos – um ao lado do outro sem poder sequer se tocar. Só vejo lágrimas de saudades da ausência do abraço do carinho. A internet tem sido a grande saída. Daí vem a famosa Monja Coen, com seu estilo totalmente zen, e diz: o vírus faz lembrar que somos todos humanos. Mas a primeira pergunta que acontece, naturalmente, é como podemos aproveitar positivamente o vírus? Diz ela que podemos arrumar não só a casa, como nossa mente, reorganizar a vida. Reaprender a respirar. Sugere a Monja que se pergunte: “Quem sou eu? O que estamos fazendo aqui?”. Talvez não seja isso que gostaríamos, mas o que deve ser feito. Santo Agostinho, invocado por ela, dizia que a liberdade é você fazer até o que não gostaria de fazer. Aqui no meu escritório estamos, através do meios possíveis de comunicação, procurando minimizar o sofrimento e a dor, ajudar, mesmo à distância, aqueles que precisam. Ensina a Monja que uma coisa maravilhosa que aconteceu no Japão com o horror do tsunami foi que ninguém saqueou nada. Eles percebem que estamos no mesmo barco. Que seja assim.