Artigo
Foi no banho
Foi embaixo do chuveiro, que ela percebeu o cansaço se esvair, a sujeira se dissolver e ser levada junto d’água, ralo abaixo.
Por: Janine Bastos em 14 de setembro de 2020
Foi embaixo do chuveiro, que ela percebeu o cansaço se esvair, a sujeira se dissolver e ser levada junto d’água, ralo abaixo.
Deixou que levasse junto de toda a sujeira, o peso do olhar de reprovação do outro e os medos guardados por essa razão, por muito tempo.
Deixou ir com a sujeira, o que hoje, já não a pertence mais.
Nem o peso do olhar de reprovação, que fala hoje, muito mais do olhar de quem olha ou melhor julga, que de fato, da atitude por ela revelada.
Crescer é saber lidar com frustações, é entender que muitos irão aplaudir, enquanto outros irão torcer o nariz e está tudo bem, afinal não tem a ver com o outro e sim com nós mesmos.
Refletia ela enquanto a água escorria. E faz sentido, é que por muito tempo nos ocupamos em querer agradar, em corresponder as expectativas, porém ao longo do tempo, corremos o risco de nos afastarmos de nós mesmos com essas atitudes.
Saber pulsar entre o Eu e o Outro, não é tarefa das mais simples, com certa frequência corremos o risco de nos perdermos em um ou no outro polo, ambos prejudiciais se em um dele nos fixarmos.
Movimento é vida, o segredo é aprendermos a pulsarmos.
Hora em um polo, hora no outro, até um meio termo, conseguirmos alcançar.
Um lugar de descanso, onde está tudo bem se o outro não validar, gostar ou elogiar.
Está tudo bem se percebermos que erramos e que este erro não nos define.
Ainda assim podemos seguir sendo quem somos, sem termos que carregar o peso das desaprovações nossas e as alheias, assim conquistamos a liberdade de ser, uma vez que não nos prenderemos ou nos limitaremos pela forma com que o outro nos vê, julga ou impõem.
E desta forma sairmos da situação, assim como ela saiu do banho, limpa, fresca e disposta, prolongando nosso bem estar nos mantendo limpos, leves, cheirosos, após o banho e na vida.
Pois nada mais leve e prazeroso que poder estar com o outro sem precisarmos deixar de ser quem somos, e não é que naquele banho, além de limpa ela saiu, suave e leve, livre para ser o que de fato é , pois apesar de não parecer nem sempre é tarefa das mais simples ser quem se é.