Crônicas

Janeiro

Mês de mais um ano de vida abaixo do Equador. Homenagem a Jano, porteiro do céu. Divindade guardiã das portas, apresentado com duas cabeças, pois todas as portas se voltam para os dois lados.

Por: Sergio Damião em 7 de fevereiro de 2022

Mês de mais um ano de vida abaixo do Equador. Homenagem a Jano, porteiro do céu. Divindade guardiã das portas, apresentado com duas cabeças, pois todas as portas se voltam para os dois lados. Ando confuso. Vivi, neste último janeiro, o melhor dos janeiros; vivemos o pior dos janeiros. O melhor de janeiro foram as crianças em areia das praias com suas correrias; o pior de janeiro foi a volta das emergências em rios e horizontes de grande parte do Brasil. Você, provavelmente, dirá que sofro por antecipação. Verdade, sofro antecipadamente pelo nível do leito do rio Itapemirim. Janeiros atrás, sofria pelo seu nível tão baixo; em janeiros atuais, desde a última enchente, sofro com qualquer elevação das águas do seu leito. Temo pelo que vejo e sinto. Nada muda, e a cada janeiro, secamos e transbordamos como nossos rios. Ainda assim, com todos os medos acumulados, o sábado e o domingo, à beira do mar, com o sopro do vento carregando a maresia, a presença da grande árvore com seu tronco e raízes, e uma enorme sombra, junto à Hugo Musso da praia de Itapuã, em Vila Velha, são alvissareiros. No apartamento, a falta de energia repentina não me deixa esquecer que, mesmo com toda ajuda do nosso padroeiro, São Pedro, mesmo com ele, as nossas necessidades perdurarão por meses, bem provável, anos. O que entristece: apesar do sofrimento das enchentes com dias de transbordamentos de rios, mesmo aprendendo a economizar, mudando hábitos, melhorando a rede de distribuição e diminuindo desperdícios, ainda assim os reservatórios e a nossa segurança podem nunca chegar. Anos atrás, em Cachoeiro, Bairro Paraíso, pela estiagem prolongada e brutal, o córrego secou. Desapareceu. Uma leve lama restou. Os animais (coelho, gambá, camaleão, saguis…) que habitam árvores da reserva florestal próxima ao bairro, adquiriram novos hábitos: aparecimento durante o dia em busca de água, coelhos domésticos cavando buracos para esconder-se do sol (algo que desaprenderam em tempos passados), passarinhos invadindo lares em busca de alimentos. Algo inusitado: urubu furtando carne crua. Pior: as ratazanas voltaram. Isto é: os hábitos dos animais mudaram. Conclusão: os humanos precisam alterar seus hábitos. A nossa contagem do tempo, calendário ocidental, segue o Gregoriano. Substituiu o Juliano, em 1582, por iniciativa do Papa Gregório XIII. No mês de janeiro, oscilei bastante. Começa fevereiro. Mês curto. Quem sabe, março…