Artigo

Luz

Neste ano novo, acendo uma vela, em meio ao escuro da noite, abro a cova, lentamente, parece contraditório, mas é com carinho, que enterro lá, as velhas ambições, ideias, sonhos, projetos, ideais, amores, amigos, muito do que trazia comigo.

Por: Janine Bastos em 31 de janeiro de 2022

Neste ano novo, acendo uma vela, em meio ao escuro da noite, abro a cova, lentamente, parece contraditório, mas é com carinho, que enterro lá, as velhas ambições, ideias, sonhos, projetos, ideais, amores, amigos, muito do que trazia comigo.
Agora jaz!
Descansa, dorme, repousa.
No peito arde o vazio.
Mas a esta altura da vida, já me permiti viver o meu sofrer, sofro, mas me permito sentir o vazio, pois sei que só assim, vazio de expectativas, posso me abrir e me preencher, desta nova vida que nasce.
O escuro da noite e o vento frio, representam o medo e a solidão, o vento frio, que coincidentemente também contrai os músculos, aperta, tensiona, mas ainda assim sigo, certa de que é preciso se esvaziar, é preciso esvaziar o jarro, para armazenar o novo, novo conteúdo, novas flores.
Flores, conteúdos de novas cores, texturas, cheiros, que mais fazem sentido.
Abraço a mim mesma, como agradecimento por ter me amparado, por não ter me abandonado.
Tudo e todos que aqui enterro, aqui ficarão, porém terão minha eterna gratidão, por tanto.
Tantas alegrias, tantas lições.
Ao devolver a terra, cobrindo tudo isso, volto ainda mais sozinha, e cada vez mais certa e segura de ter além de mim, tudo e todos que preciso, para esta nova fase.
Mas dou as mãos a minha confiança interna, andamos nos arranhando na primeira etapa da vida, agora, já estamos maduras, prontas o suficiente, para andarmos juntas e sermos amigas.
Inseparáveis, por sinal.
Me conecto com muitas boas lembranças, que mostram que me coloquei com amor no que me propus a fazer, me alegro e agradeço.
Choro a dor da despedida de tudo que adoraria ter comigo, mas precisei deixar.
Me despeço, na certeza dos bons momentos vividos e na certeza, de que por pior que possa ter sido dar tchau, o adeus, foi o melhor que poderia ter feito, para de fato me abrir ao novo.
E você, o que precisa enterrar?
O que precisa viver o seu morrer, em outras palavras, chorar a morte, deixar sentir arder na carne, no peito a angustia do vazio? Para que assim curado verdadeiramente reconheça a força do amor, a força de ser verdadeiro com a vida que pulsa dentro de você e te implora por ser e estar de verdade em tudo aquilo que se propõem a fazer?