Artigo

Mais que algumas reflexões…

Pessoalmente, a bem da verdade, não tenho – nem poderia ter - do que me queixar do confinamento, pelo menos em comparação com o que estão no país e o mundo.

Por: Wilson Márcio Depes em 20 de abril de 2020

Pessoalmente, a bem da verdade, não tenho – nem poderia ter – do que me queixar do confinamento, pelo menos em comparação com o que estão no país e o mundo. A rotina de permanência em casa continua mais ou menos a mesma, com os devidos cuidados de higiene exigidos pelos novos tempos. Faço, imperturbavelmente, sempre um cotejo com o que vem de fora. Aliás, sempre fui assim. Não por conformismo, mas talvez por empatia (não quero ser presunçoso, mas que se me permita dizer a verdade). Sim, antes, sobre a pandemia, achava que o pior é o que vinha de outros países: as notícias sobre os avanços do flagelo, o diário das mortes, a disputa de números que na realidade significam corpos, ou seja, pessoas. Mas agora o flagelo chegou por aqui!
Nesse ponto, fico com o Zuenir, só temo risco de anestesia pela repetição, o perigo de daqui a pouco a gente achar natural essa maratona mórbida. Por outro lado, ao contrário do presidente Bolsonaro, que considera o coronavírus uma “gripezinha” que está indo embora, a Organização Mundial da Saúde calcula que a pandemia está se acelerando a uma “taxa exponencial”. O diretor da OMS acha que, sem uma ação agressiva geral, milhões podem morrer infectados. Sem ser muito rigoroso, no dia em que escrevo calculava-se que o Brasil tinha mais de 300 mil infectados. A certeza é que amanhã serão mais. Tudo muito triste. Todos os cientistas tinham razão, só quem não sabia e não sabe de nada é o presidente. E alguns de seus bajuladores.
Agora, aqui pra nós, somos um dos países que menos realizam testes, os cientistas e pesquisadores estimam que, se fosse considerado o número de casos subnotificados, estaríamos em segundo lugar, atrás apenas dos EUA. Diante das precárias condições de atendimento — a rede hospitalar à beira do colapso, como em São Paulo e no Amazonas, por exemplo —, os profissionais da saúde surgem como verdadeiros heróis dessa batalha contra um inimigo poderoso e invisível. Mas, a grande verdade que está segurando a barra é o SUS.
Os barões da medicina privada querem falar de tudo, menos do colapso de hospitais do SUS (que está carregando o piano). Falta que essas duas turmas conversem, partindo de uma premissa: “Eu não quero te quebrar, mas você não pode querer me matar”.