Artigo
Meu bloco na Rua…
Dono de uma prosa muito agradável, alto astral, nada tirava o seu bom humor. Não podia ver ninguém triste ou infeliz: corria em seu socorro para aliviar a angústia do amigo.
Por: Wilson Márcio Depes em 13 de junho de 2023
Morreu, na sexta-feira (dia 2), uma das figuras mais significantes de nossa terra e de nossa história. Deixou – com certeza – a herança mais bela que se pode receber: ensinou como se vive. Foi personagem de meu livro de Fotocrônicas II, onde aparece com o cetro de Rei Momo. E uma bela barriga. Estou falando, como não quisesse pronunciar seu nome e não revelando, não reconheceria sua morte – de: Zozô – Zoroastro Henrique de Farias. Dono de uma prosa muito agradável, alto astral, nada tirava o seu bom humor. Não podia ver ninguém triste ou infeliz: corria em seu socorro para aliviar a angústia do amigo.
Só me lembro que iniciei a crônica publicada no livro assim: De tudo quanto Zozô foi, fez e faz nesse mundo de Deus, uma coisa ninguém pode refutar: o único e inadiável compromisso que ele possui, na vida, é com a felicidade humana. E justificava: “Ora, se nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, não tem jeito, nós nascemos para ser felizes”.
Preciso revelar uma coisa, que ele, por certo, não se aborrecerá: tentou o vestibular de medicina várias vezes: “Não passei em nenhuma das tentativas, mas saí preparado para vida.”. Não duvido. Quando ele trabalhava numa farmácia na praça Jerônimo Monteiro, me deu um exemplo de sua habilidade e esperteza. Um cidadão, de passagem por Cachoeiro, quis saber a performance do prefeito, indagando: “Quem é o prefeito daqui, como ele é?”. Respondeu Zozô: “É tal qual falam dele”. Intrigado o turista refutou: “Mas o que falam dele?”. Rapidamente ele respondeu: “Aquilo que falam de todo prefeito”.
Quem não conheceu preciso dizer que Zozô trabalhou mais de quarenta anos no Rio de Janeiro. Lá, foi estudante, bancário, boêmio. Como farmacêutico, obteve seu maior troféu: é o de ter sido o farmacêutico preferido para aplicar injeção em Marta Rocha, a eterna miss Brasil e a brasileira mais bonita de todos os tempos. Por onde Zozô passava fantasia e realidade se encontravam para nunca mais se separar. Valeu a pena. Mas, confesso, tudo fica muito triste sem ele…