Crônicas

Não fale mentira sem prova

O velho Millôr Fernandes dizia que jamais diga uma mentira que não possa provar. O pessoal do Bolsonaro, por não ter lido Millôr, não acredita nisso. E não está conseguindo provar as mentiras. 

Por: Wilson Márcio Depes em 31 de maio de 2021
Ferreira Gullar, adaptando outro pensamento, sempre dizia que é melhor ser feliz do que ter razão. O poeta não iria mentir pra nós.   Ocorre que, infelizmente, esse pessoal que está depondo na CPI do Senado não é uma coisa nem outra. Como não poderia deixar de ser, é uma soma de contradições que não tem fim e nunca terá. O velho Millôr Fernandes dizia que jamais diga uma mentira que não possa provar. O pessoal do Bolsonaro, por não ter lido Millôr, não acredita nisso. E não está conseguindo provar as mentiras.  O que mais me perturba, num nível profundo, é como esse pessoal não tem sentimento de pudor diante da morte de mais de 450 mil brasileiros. Pelo contrário.  Fica feliz em cultuar o negacionismo, manda às favas protocolos sanitários e defende o uso de remédios contra a doença, evitando, ao máximo, as vacinas. Cultua, cinicamente, imunização de rebanho.
Quando escrevi uma crônica sobre o tema aqui nesta coluna, o presidente Bolsonaro ainda estava com a aceitação elevada, segundo os institutos de pesquisas. Dizia que a situação estava piorando para ele.  Agora, que a conjuntura mudou, precisa, de todos os modos, mostrar que as pesquisas que registraram sua baixa popularidade não são verdadeiras. Precisa mostrar volume. Ora, até mesmo o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, que recebeu apoio do governo para se eleger, diz que “Bolsonaro está em seu pior momento”.
Ora, a festa de domingo, no Rio, com a participação ilegal de Pazuello, é um ensaio político para as próximas eleições. Mesmo que o número de mortes venha crescendo a cada dia. Eu me pergunto: O que eles festejavam? O que essas motos barulhentas queriam dizer? Queriam dizer que temos um governo competente? Que já vacinamos 60 por cento da população? Que já podemos tirar as máscaras como nos EUA?  As perguntas podem ser inábeis, mas não há nada mais cretino do que a festa do presidente Bolsonaro.  Não estou aqui defendendo candidatura de quem quer que seja. Estou tentando mostrar uma realidade que os ardorosos defensores do Governo se recusam em reconhecer.    Mas o que me preocupa mais, em verdade, é a falta de controle sanitário. Olhe a saga do passageiro que chegou a São Paulo sábado, vindo da Índia. Foi à Anvisa com sintomas de Covid, fez o teste, mas embarcou para o Rio antes de receber o resultado positivo. Ele foi a Campos e voltou ao Rio. O que deixou em seu rastro?