Crônicas

Panacéia

Ainda vemos, em Cachoeiro, aquilo que lembra uma cidade pequena: um vendedor anunciando um produto que será a panacéia de doença física e mental.

Por: Sergio Damião em 5 de maio de 2022

Ainda vemos, em Cachoeiro, aquilo que lembra uma cidade pequena: um vendedor anunciando um produto que será a panacéia de doença física e mental. Os gregos apresentavam Esculápio com suas filhas: Higéia, Deusa da prevenção da doença, e Panacéia, a diva para todos os males. Imaginavam o equilíbrio entre a prevenção e a cura. O Sistema Único de Saúde (SUS) também. Curioso que o vendedor fica ao centro de uma pequena multidão crédula e atenta. No meio do círculo uma garrafa com algum tipo de erva é exibida. Quem compra acredita, e muitas vezes, sente-se melhor. Dia desses uma cena me intrigou. Acho que fica por conta da crença do fim da pandemia do coronavírus ou pela liberação da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes ao ar livre. Com a lentidão do trânsito, observei alguns rapazes, quatro para ser exato. Uma caixa de som com alto falante e um microfone com fio. Dos quatro, três possuíam bíblia, dois vestidos com terno, bem elegantes. O que falava, dava a entender que era um convidado de última hora, pela maneira esportiva que se encontrava. Com o vidro fechado do carro e a música interior, não ouvia. Porém, fiquei impressionado com a maneira que gesticulava e com a alegria exibida. Com a face sorridente acreditava falar para uma multidão. Ele não se deixava abater. Continuava com sorriso aberto. Logo em seguida ofereceu o microfone aos que possuíam as bíblias. A transferência foi empolgante, um forte abraço entre os quatro, lembrava uma entrega de troféu, uma vitória do Flamengo, uma conquista pessoal ou…. Não sei o que se passava na mente dos quatro jovens, só sei que, o que vi, é bem melhor do que vejo com os dependentes químicos em hospital psiquiátrico. Antes de dar partida no carro, com o verde do sinal luminoso, observei um pouco mais e pensei de onde poderia vir tanta alegria e paz aparentada na face dos jovens. A minha racionalidade, naquele momento, não atribuiu à fé. Acreditar em algo, não foi o que pensei de imediato. Faltava explicação e lógica. O resto do dia passei no hospital. Senti saudade da alegria e paz demonstrada pelos jovens. A simplicidade da transferência do microfone me fez pensar que era apenas isso, nada mais. As coisas racionais que falei e fiz no restante do dia não me satisfizeram.