Artigo

PUB

Proust é o exemplo clássico de escritor ou pessoa que consegue enxergar o óbvio, sentir as dores dos outros e sugerir o caminho para a felicidade, mas viver exatamente de maneira contrária aos seus conhecimentos.

Por: Sergio Damião em 22 de maio de 2021

Alain de Botton é um suíço, naturalizado britânico, escreve sobre temas do cotidiano, uma autoajuda com jeito filosófica. Aborda Proust, viagens, amores… Seus livros foram publicados no Brasil pela Editora Rocco. Li dois deles (A arte de viajar e Como Proust pode mudar sua vida). Proust é o exemplo clássico de escritor ou pessoa que consegue enxergar o óbvio, sentir as dores dos outros e sugerir o caminho para a felicidade, mas viver exatamente de maneira contrária aos seus conhecimentos. Isto é, conhecer a alma humana, as necessidades e desejos humanos, sem nunca ter vivenciado e sentido. Em Viagens, Alain cita Baudelaire, o francês que se inquieta em casa, deseja as nuvens, não se satisfaz com o lugar encontrado, prefere a expectativa e preparo da partida. A decepção é quase certa com a chegada ao destino programado. Uma inquietude que percebemos na crônica de Rubem Braga: A Viajante. Trechos da crônica encontram-se à disposição em nossa Rodoviária. A placa com as palavras levemente apagadas tem o Braga disparando: “Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá. Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique. Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida – e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu… Boa viagem e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.” Nesta pandemia SARS-CoV-2 (Covid-19), na insegurança da falta de vacina e na falta da palavra, lembro que no momento da leitura dos textos do Botton, anos atrás, aconteceu um apagão em metade do Brasil. Na ocasião, o apagão foi rápido; a pandemia persiste sem data do fim. Nos países que investiram na vacinação começam a retornar os contatos e gradativamente as conversas em bares, restaurantes, parques… Sinto saudade de um PUB, um bar estilo irlandês, tem o ambiente e sonorização apropriada para viagens emocionais. De olhos fechados, o som nos propicia uma viagem ideal.