Artigo
Serenidade e Bom Senso
Certa vez, perguntei ao meu filho Vitor o que ele tinha aprendido em seus 12 meses de Serviço Militar Obrigatório. Ele disse: paciência.
Por: Sergio Damião em 22 de abril de 2020
Certa vez, perguntei ao meu filho Vitor o que ele tinha aprendido em seus 12 meses de Serviço Militar Obrigatório. Ele disse: paciência. Tinha servido como Oficial médico na Marinha do Brasil, em Niterói. Na ocasião, em que servia, eu tinha dúvidas, achava que seria uma perda de tempo para um médico. Hoje, anos depois, observando sua evolução como pessoa, e profissional, penso diferente. Adquiriu serenidade e capacidade para a virtude do bom senso. Concluo: não há perda de tempo na vida quando aprendemos a aproveitar as experiências diárias. Acredito: Sempre existirá o lado bom e o lado ruim das coisas da vida. O melhor que fazemos é construir as condições para que o lado bom se sobressaia. Na atual quarentena, isolamento social imposto pela Calamidade Pública decretada pelos governos em função da Pandemia do Coronavírus – Covid-19, uma das determinações foi a proibição da entrada de pessoas com mais de 60 anos de idade em estabelecimentos comerciais. Em Cachoeiro de Itapemirim liberado a entrada dos idosos no período das 6 às 8 horas. Era um domingo, acordei tarde. Passava das oito horas. Desejava o pão francês. Desci do apartamento e rapidamente alcancei o estabelecimento comercial. Ouvi: Senhor? Senhor? Por favor, sua idade? Surpreendido, e ainda sonolento, lembrei-me do Decreto Municipal Cachoeirense. Olhei o relógio: 8:15 horas. Levantei a cabeça e respondi de pronto: 57 anos. Ele me olhou e ofereceu o álcool. Higienizei as mãos e com passos firmes fui de encontro ao meu desejo. Alegre por ele não ter solicitado documento para confirmação. No caminho de volta, fui lembrando o meu tempo de adolescente. Do tempo que rasurava a “caderneta”, documento escolar, para aumentar a idade. Meu pai checava, semanalmente, o visto de presença nas aulas e, mensalmente, as notas escolares, fingia não ver a rasura na idade. Isto me permitia o cinema e as domingueiras no Clube Social. Menti ao vigilante do comércio, o lado ruim da quarentena; o lado bom foi que, por alguns instantes, a travessura da falsificação da idade para a compra do pão, fez a alegria do domingo. Muitos risos em meio às apreensões e angústias de um fim de semana de isolamento social.