Artigo

Sono e Sonhos

Bernardo, meu neto, encontrava-se saltitante, corria para um lado e outro, passava das 22 horas. De repente, pediu: Vovô, água!

Por: Sergio Damião em 13 de abril de 2020

Bernardo, meu neto, encontrava-se saltitante, corria para um lado e outro, passava das 22 horas. De repente, pediu: Vovô, água! Sentou no sofá, eu me aproximei e entreguei o recipiente com o líquido. Ele tomou um gole e disse: água, água, a… E, apagou. Era um sábado, estava em São Paulo. Na segunda, em Cachoeiro, no ambulatório do CRE, uma senhora, desesperada, solicitava uma receita azul. Dizia: sem o remédio não dormiria. Recordo o retorno de uma viagem ao exterior, fuso horário maior que 12 horas, chegara ao Aeroporto de Vitória em fim de tarde, sentia-me seguro para a BR 101. Próximo a Cachoeiro, cochilei ao volante. Alguns segundos, por pouco uma tragédia. O sono, ou a falta dele, bem como os sonhos, é um dos assuntos mais intrigantes para a neurociência atual. Algo com que Freud revolucionou o mundo do séc. XX em suas interpretações. Algo que a Ressonância Magnética vai desvendando no mundo atual. Algo que me intriga desde o efeito Jet Lag do fuso horário de retorno da minha viagem; na angústia da senhora da receita ou o desespero da minha nora e do meu filho para ajustar o sono do Bernardo. Das minhas dúvidas, uma certeza: A sociedade tornou-se abusiva no uso de medicações para indução do sono. Por isso, adquiri dois livros: Por que nós dormimos, de autoria do britânico Matthew Walker e O oráculo da noite: o sonho, escrito por Sidarta Ribeiro. Eles discorrem sobre como o sono é sacrificado em nossa sociedade desde o descobrimento da lâmpada e o uso da eletricidade por Thomaz Edson. Enfim, temos dormido cada vez menos. O efeito em nossa concentração, e reação, após mais de 16 horas de privação do sono são semelhantes aquelas ao uso do álcool – algo negligenciado. Mais, noites mal dormidas acendem outros sinais de alertas: erros médicos, acidentes de trânsito, enfermidades crônicas (diabetes e hipertensão), malefícios na imunidade e equilíbrio hormonal. Sidarta e Matthew explicam o ritmo circadiano – nosso relógio interno: biológico. Falam da importância da iluminação e cores das telas eletrônicas como inibidores da produção noturna da melatonina – nosso indutor do sono. Com o ritmo circadiano entendemos geneticamente comportamentos de crianças e adultos.